RenovaBio e o transporte

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A sociedade brasileira passou a contar, na véspera do Natal, dia 24, com um dos mais importantes programas de proteção ambiental e à saúde pública. Trata-se da Política Nacional de Biocombustíveis, RenovaBio, que visa a descarbonização da matriz de transporte com a indução, via mecanismos de mercado, da substituição dos combustíveis fósseis por biocombustíveis. Trará impactos em toda a cadeia produtiva até o consumidor final, além de ser uma resposta efetiva do Brasil aos compromissos assumidos no Acordo de Paris.

O programa começou a ser desenhado em 2016, com a formação de um comitê pelos vários elos da cadeia produtiva, como os produtores de biocombustíveis, distribuidoras e academia, sob o comando do Ministério das Minas e Energia (MME). Foi debatido e aprovado pelo Congresso Nacional e transformado na Lei 13.576 de 2017. Coube à Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e ao Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) a parte da regulamentação para que o programa pudesse entrar em vigor ainda em 2019.

A principal virtude do RenovaBio foi montar uma estrutura de remuneração do serviço ambiental já prestado pelos bicombustíveis ao país com a mitigação da emissão de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera, utilizando o conceito de ciclo de vida dos combustíveis (balanço de emissões desde a produção até a utilização final nos motores). Além disso, de acordo com a nova legislação, a expansão da produção será feita dentro das regras do Código Florestal Brasileiro, com a exigência do Cadastro Ambiental Rural (CAR) para todas as propriedades agrícolas habilitadas, e não permite, sobretudo, nenhum tipo de desmatamento.

Para participarem do programa, os produtores de biocombustíveis (etanol, biodiesel, biogás/biometano e bioquerosene) terão que buscar a certificação junto à ANP, que vai emitir os Cbios ou créditos de descarbonização. Esse é o principal instrumento operacional lastreado de acordo com a nota de cada produtor e eficiência ambiental, que será comercializado às distribuidoras de combustíveis, outro elo importante do processo. Em última instância, serão essas as responsáveis pela redução efetiva da emissão de gases do efeito estufa (GEEs), com o cumprimento de metas anuais e crescentes de mitigação, estipuladas pelo CNPE.

Até 2029, a estimativa é de que sejam mitigados cerca de 700 milhões de toneladas de CO2 equivalentes da atmosfera, com a geração e comercialização de cerca de 700 milhões de Cbioss (cada Cbio equivale a uma tonelada de CO2 mitigada). A possibilidade de uma nova oportunidade de receita ao produtor de biocombustíveis gerará um ambiente de negócios favorável à expansão da produção e da melhoria da eficiência. Isso poderá proporcionar uma redução de custo operacional e, consequentemente, diminuição de preços ao consumidor.

Os produtores de etanol (a cadeia mais estruturada de produção de biocombustíveis no país), por exemplo, que perseguirem uma nota de eficiência maior, estarão, também, capturando mais carbono da atmosfera, a partir do momento que otimizarem o uso de insumos com impactos ambientais. Eles podem reduzir ou substituir o consumo de óleo diesel das máquinas da operação agrícola por biometano, produzido a partir da vinhaça e da torta de filtro, subprodutos da produção sucroenergética. Ou mesmo reduzir ou substituir o uso dos fertilizantes sintéticos por biológicos e até mesmo melhorar a eficiência da cogeração de energia, destinando mais bioeletricidade para exportação. A emissão de GEEs poderá, então, zerar e até ficar negativa, conferindo mais eficiência ambiental à produção, redução dos custos, com a geração de um ciclo virtuoso para toda a sociedade.

Outro benefício do programa, que não se pode esquecer, é que, caso o país não trilhasse pela valorização dos biocombustíveis, deixaria boa parte desses recursos para importação de combustíveis fósseis, como a gasolina e diesel. O cenário entre o balanço de oferta e demanda de derivados de petróleo no país é de déficit contínuo para os próximos 10 anos, o que faria com que tivesse que aumentar as importações ainda mais.

Minas Gerais, como terceiro maior produtor de etanol e com a segunda maior frota de veículos do país, deverá ser um dos principais impulsionadores do programa. Até meados de dezembro, das 31 empresas produtoras de etanol, 24 já haviam solicitado à ANP a certificação junto ao RenovaBio. É certo que com o cumprimento das metas, o país terá estruturado uma oferta regular e firme de biocombustíveis, capaz de assegurar ao Brasil níveis baixíssimos de emissões de carbono no transporte e uma segurança energética de modo sustentável.

Extraído do Portal do Jornal Estado de Minas (OPINIÃO), 31/12/19

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A conexão deve ser sempre com o consumidor

Acredito que este texto a ser lido por você, leitor, será o artigo mais importante da minha trajetória como líder setorial. Depois de anos de atuação com inúmeros desafios e algumas conquistas importantes, me dou o direito de ser provocativo, o que poderá incomodar algumas pessoas.

Inicialmente, gostaria de fazer duas perguntas. A primeira refere-se ao tema ambiental, você acredita que o ser humano é causador das mudanças climáticas ou aquecimento global? Já a segunda refere-se ao açúcar: você acredita que é possível conciliar o uso de açúcar (sacarose) na dieta em busca de uma vida saudável?

É obvio que diversas outras perguntas poderiam derivar dessas duas, por exemplo, poderia perguntar sobre o carro elétrico; contudo vou ficar somente com essas duas. Mas, antes, é necessário contextualizar as grandes transformações por que o mundo e o Brasil estão passando, numa velocidade exponencial.

É de extrema urgência a todos os empresários e gestores de negócios a reflexão e a busca desse entendimento, sobretudo em função da tecnologia, que a sociedade está vivendo, que tem mudado hábitos e transformado negócios já consolidados. E, se você não tem menos de 22 anos, já adianto, é um grande desafio entender esse futuro e você pode estar tomando uma decisão completamente equivocada neste momento.

A transformação tecnológica e as inovações disruptivas têm mudado sobremaneira a forma como vemos e como agimos em sociedade. Com um aparelho na palma da sua mão, é possível fazer quase tudo relacionado à vida moderna, inclusive uma ligação. Essa transformação já está chegando de uma forma muito rápida no agronegócio, com grande evolução e um enorme campo de oportunidades, e os resultados já estão aparecendo.

Da mesma forma, o conceito de consumo consciente, seja a ideia minimalista de apenas consumir o necessário, seja a chamada consciência ambiental, tem moldado, de forma expressiva, os negócios pelo mundo. O conceito de bioeconomia, economia circular, a luta por uma causa têm crescido de forma significativa pelos quatro cantos do planeta.

As preocupações sociais com o forte crescimento dos conceitos de igualdade, inclusão/diversidade e equidade têm levado a grandes reflexões nas altas cúpulas das empresas globais e de governos e têm mudado a forma de atuação das empresas, deixando de ser apenas agentes de produção econômica para serem agentes de promoção do bem-estar social.

E, por trás dessa grande transformação, está o ser humano. Ele é o driver dessa transformação, é o colaborador, o consumidor, o cidadão em geral. E o que esse cidadão, esse novo consumidor quer? Ele quer a mobilidade na palma da sua mão e a experiência de se sentir mais humano. Ele quer ser inserido em uma economia de confiança e possui uma consciência na busca por um mundo melhor. Esse consumidor praticamente decretou o fim da posse, porque ele valoriza muito mais o que ele é e cada vez menos o que ele tem.

Pode ser contraditório, mas essa transformação tecnológica e disruptiva traz as pessoas para o centro da decisão, com o seu empoderamento e a humanização das relações. Cada vez mais, as empresas terão que se preocupar com os 3Cs, cliente, colaborador e comunidade, de forma conjunta. E como esse mundo irá se conectar? A conexão entre tudo isso está no propósito, simplesmente a razão de ser.

Propósito, uma simples palavra, mas com uma capacidade enorme de transformação se bem usada. E, na sua opinião, qual o propósito do setor sucroenergético brasileiro? Com a sua resposta, nós conseguiremos fazer essa conexão entre as pessoas?

Na minha opinião, o propósito do setor é produzir alimento e energia limpa e renovável, de forma competitiva, para o Brasil e para o mundo, gerando emprego e renda para os brasileiros. Essa é a nossa razão de ser e o que deveria nos mover em direção ao futuro. Imagine cada colaborador do setor entendendo a sua função de alimentar o mundo e produzir energia para mover os carros e os aparelhos eletrônicos das pessoas.

Imaginem o orgulho de uma comunidade ao saber que a sua cidade ajuda a reduzir a fome na África ou mesmo auxilia a manter um ar de melhor qualidade para respirarmos. Imagina o seu cliente satisfeito de ter encontrado o seu produto próximo a ele, com um preço justo e de boa qualidade. Essa é a conexão tão necessária para encararmos essa transformação.

Para isso, precisaremos mudar. Chegamos até aqui com relativo sucesso, um grande parque produtivo, vasta área de cana, sistemas logísticos consolidados, uma diversificação imprescindível para atravessar as turbulências intrínsecas às commodities e um grande mercado consumidor. Mas será o suficiente para construirmos o futuro? Infelizmente, não.

O setor sucroenergético brasileiro tem como característica o olhar para dentro, muito normal para um segmento muito complexo, com tamanhas incertezas de produção e preço. Mas, agora, chegou a hora de também olhar para fora, fazer a conexão com a sociedade, mostrar a ela que o nosso propósito se encaixa naquilo que ela procura.

Voltemos às perguntas do início do texto. Vejamos a primeira. Somos produtores de energia renovável e limpa, uma opção ao combustível fóssil e altamente imprescindível ao Brasil e a alguns países do mundo para fazer a transição para a economia de baixo carbono. Você, acreditando ou não nas mudanças climáticas, saiba que boa parte da sociedade acredita e quer pagar por essa mudança.

A utilização cada vez maior do etanol e da bioeletricidade de cana se dará a partir da capacidade do setor de se conectar com esse mundo do consumo consciente e preocupado com o meio ambiente. Esse é o desafio. Não é você que escolhe o consumidor, é ele que o irá escolher, portanto conecte-se a ele.

Da mesma forma, quando falamos sobre açúcar, a primeira ideia que vem à mente das pessoas é a questão da obesidade. Mal sabem elas que o açúcar, no sentido geral, é imprescindível à sociedade e está presente inclusive no primeiro alimento nosso, o leite materno. Quantos povos ao redor do mundo sofrem com a falta de comida, de energia para o corpo humano. O açúcar ainda tem muito que adoçar o mundo. E para aquelas pessoas que têm opção? Mais uma vez, como vamos fazer essa conexão, é um grande desafio. Convido a todos a visitar a área de açúcares especiais de um supermercado classe A, veja a transformação que podemos fazer: demerara, orgânico, fit, etc…

É só conectar com o propósito das pessoas, seremos novamente escolhidos. Aos poucos, o interesse por exercícios físicos está aumentando, o que possibilita novas mudanças de hábitos; equilíbrio é a palavra do momento. Portanto o futuro do setor sucroenergético dependerá sobretudo das pessoas, são elas que definirão o nosso caminho de produção, sua produtividade e eficiência; são elas que pensarão e planejarão o setor, levando-o a fazer essa tão almejada conexão com a sociedade brasileira e mundial. Só depende de nós!

O etanol tem futuro

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O aquecimento é uma ameaça global. Neste sentido não somente as ações dos países para a redução das emissões de gases do efeito estufa são importantes, bem como atitudes individuais podem provocar grandes benefícios e fazer a diferença!

Considerado um dos segmentos culpados pelo aquecimento global, o transporte passa por fortes mudanças em busca da redução das emissões. O consumidor brasileiro já leva uma vantagem em relação a isso e conta com um forte aliado, o etanol, combustível limpo e renovável, que contribui para a redução da poluição, além de representar uma economia para o bolso.

Desde o ano passado, o consumo de etanol tem batido recordes em Minas Gerais, diante de uma oferta, também recorde por parte dos produtores. Em 2018 foram produzidos 3,2 bilhões de litros de etanol para um consumo de 2,5 bilhões de litros frente os 1,5 bilhões de 2017, crescimento de 69%. Este ano até junho, o consumo já alcançou 1,5 bilhão de litros, alta de 52% na comparação com os 980 milhões de 2018 no mesmo período. A economia auferida pelo consumidor mineiro ao abastecer com etanol, nos últimos 18 meses foi, portanto, de R$ 1 bilhão.

Um outro número dá também a dimensão da importância do etanol para o Brasil e o mundo:  o consumo de etanol hidratado mais anidro pelos brasileiros, desde o lançamento dos carros flex no país em 2003 até hoje, ocasionou uma redução das emissões de gases do efeito estufa de 535 milhões de toneladas de CO2eq.  Para atingir este volume, seria necessário plantar quase quatro bilhões de árvores e mantê-las por 20 anos.

O etanol tem todas as condições de inserção nas mudanças da mobilidade veicular mundial pela descarbonização do transporte.  Neste ano, será lançado no Brasil o primeiro carro híbrido flex do mundo. Além da previsão do aumento da oferta e consumo do combustível ainda mais, com a implementação do Programa Nacional de Biocombustíveis, RenovaBio, em 2020.

 

Mudança pode gerar um novo ciclo de desenvolvimento

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Um novo caminho para o Brasil foi escolhido nas urnas no último pleito eleitoral e o setor sucroenergético, como parte importante do agronegócio nacional, apoiou a mudança e tem grandes expectativas em relação ao novo governo do presidente Jair Bolsonaro.  Porém, os desafios são muitos para que o setor e os outros segmentos econômicos possam ter um ambiente mais propício de negócios, com ideias liberais mais internalizadas e maiores oportunidades em benefício de toda a sociedade.

Dentro dessa expectativa de mudanças, é preciso se atentar para o gigantesco trabalho que deve ser feito pelo novo governo federal na busca do equilíbrio fiscal, com um choque nas despesas e aprovação das reformas, pois o brasileiro não suporta mais um aumento na carga tributária. A reforma da Previdência, principalmente a pública, é urgentíssima, pois tem interferido, cada vez mais, nos déficits fiscais. Assim como também os governos estaduais precisam solucionar seus déficits e retornar com as políticas públicas de apoio ao crescimento econômico.

A outra reforma necessária é a tributária, pois a complexidade desse sistema inviabiliza diversos investimentos necessários para o crescimento do setor e da economia como um todo em infraestrutura e logística. Se tivermos um sistema tributário mais simples, com menor custo, os produtos nacionais ganharão maior competitividade tanto no mercado interno quanto aqueles destinados à exportação, como o açúcar, e porque não dizer, também o etanol.

Espera-se, portanto, que o novo governo seja reformista, que consiga melhorar o ambiente de negócios, baixar o custo Brasil e atrair novos investimentos e, na outra ponta, abrir mercados para os produtos brasileiros. Se o Brasil der certo e sair desta situação econômica difícil em que se encontra, não somente os produtos do setor sucroenergético poderão contar com um forte mercado interno e externo bem como os outros segmentos terão condições expressivas de crescimento.

Como em todo processo democrático, é preciso que se tenha, também, abertura de diálogo para que se possa entender as necessidades do setor e que possíveis impasses não atrapalhem a rota do crescimento.  Existem assuntos polêmicos que podem aparecer durante a gestão do novo governo e que demandarão negociações como a política de combustíveis que impactam diretamente o etanol e as decisões de produção das empresas. Quanto ao açúcar, com a maior parte da produção destinada à exportação, é preciso um acompanhamento do mercado externo e de abertura de novos mercados. A energia elétrica do bagaço de cana também demanda políticas de incentivo equiparadas às realizadas hoje para a energia eólica e solar.

O governo de transição do presidente Michel Temer realizou uma agenda importante de forte impacto no setor sucroenergético nacional. Além da reforma trabalhista, imprescindível para competitividade da economia brasileira, foi neste governo que foi aprovado, em tempo recorde, aquele que poderá representar um novo tempo ao setor sucroenergético, o programa RenovaBio.

O RenovaBio é um dos cinco pontos fundamentais, na nossa opinião, para que o setor possa seguir com sua produção de energia renovável, contribuindo com a redução do aquecimento global, além da grande geração de emprego e renda no campo. O programa ainda depende de algumas regulamentações, com grandes expectativas para entrada em vigor no final de 2019. Ele vai ao encontro da discussão mundial sobre uma política mais efetiva de precificação de carbono dentro de um sistema avançado e maiores possibilidades de cumprimento das metas do Acordo de Paris.

O segundo ponto é a necessidade de uma mudança da política externa para uma maior efetividade de acordos para o açúcar e, também, para que o etanol faça parte da cesta de produtos do Brasil como prioridade de defesa comercial. Há excelentes oportunidades de mercado na América Latina e em toda a Ásia, seja para venda de nossos produtos, ou mesmo na promoção e incentivo à produção interna de etanol, extremamente importante para consolidação de um mercado internacional para o biocombustível. Temos visto alguns países que têm colocado barreiras ao açúcar brasileiro e outros concorrentes implantando subsídios que desestruturam todo o mercado mundial.

Um outro ponto importante é a defesa do etanol na discussão do futuro do automóvel. O país tem uma solução importante para a redução da poluição e o aquecimento global, que é a produção dos biocombustíveis, integrada aos programas do Renovabio e do Rota 2030, recentemente aprovado. Portanto, é importante que essa produção seja reconhecida e que o Brasil possa caminhar, ainda dentro desse escopo, para alternativas como a produção de veículos híbridos e, no futuro, à célula de combustível com uso de etanol. Obviamente, a eletrificação dos motores será uma tendência forte, mas tem várias formas disso ocorrer, um híbrido com dois tipos de motor, a combustão e o elétrico funcionando como complementar, e a célula de combustível podem trazer muitos benefícios para o segmento.

O quarto ponto é a manutenção da atual política de preços dos derivados do petróleo, pois o setor ganhou uma outra dinâmica nesse sistema, com maior previsibilidade, essencial para os novos investimentos. Por fim, como quinto ponto importante desta extensa agenda está o aumento da concorrência no mercado de refino de petróleo no Brasil. Atualmente há um monopólio de fato pela Petrobras, o que prejudica a competição no mercado de combustíveis no país, que somente será equacionado com a entrada de novos players na produção de derivados no Brasil.

Os desafios são tremendos, mas trazem oportunidades como o conceito da tecnologia 4.0 que começa a ser aplicada também no agronegócio e pode ajudar muito o setor sucroenergético na recuperação, por exemplo, dos índices de produtividade. Alguns produtores já estão se beneficiando dessas novas tecnologias, com resultados fantásticos, aproximando mais das instituições de pesquisa e verificando exemplos de outros produtos do agro, como os grãos, que têm um nível tecnológico maior com excelentes resultados.

Quando conseguirmos ultrapassar todos esses desafios outros virão, mas é preciso lutar para que o setor possa continuar crescendo e assim toda sua cadeia produtiva, com impactos altamente positivos no desenvolvimento econômico e social das regiões onde atuam, com ganhos para todo o país. As expectativas são as melhores possíveis e esperamos que o novo presidente Jair Bolsonaro abrace o segmento agroindustrial e que veja os biocombustíveis, o açúcar e a bioeletricidade como produtos estratégicos para o presente e o futuro do país.

 

 

É necessário recuperar a confiança

O Brasil passa por um dos piores momentos da sua histórica na área econômica e política e ultimamente estamos fazendo mais um trabalho de psicologia, tentando levantar o moral dos nossos compatriotas, do que sendo analista em busca de cenários positivos que acabam por moldar as estratégias empresárias. Isso não é muito diferente no setor sucroenergético que também passa por tempos de provação, exigindo criatividade e resiliência de executivos e empresários do setor.

As grandes transformações globais, se por um lado podem ajudar as cadeias econômicas mais tradicionais, por outro a inovação pode balançar as estruturas e desorganizar sistemas econômicos centenários e já consolidados. No mundo do Agro não é muito diferente, aliás na minha opinião veremos mudanças até maiores nos próximos anos, simplesmente porque o campo de trabalho é extremamente vasto com resultados que poderão aparecer no curto prazo.

Esse processo geralmente requer um tripé muito importante. Incialmente, é necessário ter uma ideia inovadora, que normalmente nasce a partir de um problema identificado, depois é preciso ter a engenharia financeira ou um ecossistema inovador que possibilite essa ideia ser desenvolvida. Por fim, é preciso encontrar um ambiente de aceitação do novo por parte daqueles que poderão efetivamente usufruir da proposta, onde também incluímos a abertura por parte das autoridades reguladoras. Esse movimento é exemplificado pelo mundo das startups, algumas delas já com grande sucesso.

Na indústria em geral se fala muito no 4.0, com uma grande transformação com a robotização e a digitalização dos processos, sensores dão maior capacidade de gerenciamento, correção dos problemas com menor tempo e melhoria dos processos produtivos com mais facilidade. A geração de dados virou uma febre, falta agora saber a melhor forma de organizá-los e o que faremos com eles. Da mesma forma o Agro caminha para o 4.0.

É nesse novo mundo, em constante e rápida transformação que o setor sucroenergético brasileiro precisa se renovar e se remodelar. As estratégias de longo prazo precisam levar em conta as macrotendências mundiais e suas consequências sobre o setor, sendo a primeira os avanços tecnológicos já abordados. Passamos por uma mudança rápida na demografia com um crescimento e envelhecimento da população, associada a uma urbanização acelerada, com a migração do campo. Soma-se a essas três tendências, o deslocamento do poder econômico mundial, principalmente com o crescimento do poderio chinês, além é claro da preocupação cada vez maior com as mudanças climáticas que em geral causa escassez de recursos.

Analisando de perto essas tendências é possível concluir que o setor sucroenergético está totalmente inserido neste contexto com oferta de alimento e energia limpa. Contudo, estamos no Brasil e as incertezas econômicas, políticas e institucionais têm tirado principalmente a confiança tão necessária aos novos investimentos, principalmente na entrada de novos players. Da mesma forma, a falta de confiança no futuro tem afastado jovens talentos e profissionais capacitados do setor.

Algo precisa ser feito, é necessário recuperar a confiança, atualmente o setor tem recebido forte pressão devido aos vultuosos subsídios de países produtores de açúcar, além de campanhas negativas contra o seu uso com alto potencial de impacto no consumo do produto. Pelo lado da energia, há um grande movimento mundial em favor do carro elétrico a bateria, principalmente associado ao aumento do uso de energia solar fotovoltaica, um verdadeiro rolo compressor que prega o uso de vultuosos benefícios com recursos por parte dos fabricantes de equipamentos, governos e, também, pelo mercado financeiro.

A busca da solução começa dentro do próprio setor. A procura da eficiência e menores custos precisa ser intensificado, o setor precisa ficar mais competitivo, para isso será preciso produzir mais sacarose por hectare de cana. A tecnologia está pronta para atender o setor, é preciso intensificar a conectividade do campo com a gestão, os dados precisam ser coletados, transmitidos e auxiliar na tomada de decisão.

Um associado da SIAMIG, recentemente, reportou um fato que corrobora essa análise. A aplicação de defensivos realizadas com máquinas, coloca muitas vezes os colaboradores das usinas em um trabalho solitário e distante da unidade industrial. Em uma área de 500 hectares percebeu-se de um ano para outro uma perda de produtividade de mais de 20% com o aparecimento de uma praga específica, em contraponto com o restante das áreas da empresa. Após a análise do fato, ficou constatado que o funcionário não havia aplicado o produto na área específica no momento correto. Se existisse um sistema de monitoramento interligado, o erro provavelmente teria sido corrigido rapidamente e o prejuízo seria mínimo.

Para tal é necessária uma maior organização no ambiente de pesquisa e desenvolvimento do setor no Brasil, seja no ambiente digital, industrial e principalmente no agrícola. Há uma escassez de recursos geral que tem prejudicado as poucas ações hoje existentes. Devido à atual situação financeira do governo brasileiro, constata-se que a solução passa principalmente pelo setor privado. Iniciativas como o etanol de segunda geração, a cana transgênica ou transformações nos sistemas de produção podem ser aceleradas em um ambiente como esse.

Com a casa arrumada, é necessário um trabalho no ambiente institucional. A primeira ação é a consolidação das regras do mercado de combustíveis no Brasil. Essa proposta passa por 4 pontos, regras de precificação clara dos derivados, aumento da concorrência no mercado de distribuição, o fim do monopólio de fato do refino e do transporte por duto pela Petrobras e claro pela implantação definitiva do RenovaBio. Sem dúvida, essas quatro ações alterariam sobremaneira a percepção do mercado, tanto de produtores quanto de investidores sobre o futuro do etanol no Brasil.

Não menos importante, também no campo institucional, que envolve todo o setor exportador brasileiro, é imprescindível que o Brasil mude sua postura nas negociações comerciais com o mundo. Nosso país tem mais de 200 milhões de habitantes, com um grande mercado consumidor, somos grandes exportadores de commodities e precisamos ter mais efetividade no comércio internacional.

Por fim, o setor precisa se comunicar com a sociedade, um investimento constante e institucional. Não dá mais para negligenciar mais o fato que apesar de setor realizar um grande trabalho, tanto de cunho ambiental quanto econômico social, há um sério preconceito que ronda todas as ações deste setor tão importante para a sociedade brasileira. Isso não é uma suposição, mas sim uma constatação, existe sim uma má vontade generalizada contra o setor de cana no Brasil, é para resolver isso será preciso investir. É necessário engajar toda a cadeia, do produtor de insumos ao produtor de cana, a indústria de máquinas, enfim a todos que de uma forma ou de outra se beneficia de um segmento que gira mais de R$ 100 bilhões todos os anos.

Enfim, o futuro do setor passa pelas próprias mãos do setor, teremos muitos “inimigos” pela frente, setores muito bem organizados e conectados com a mais alta tecnologia e com as macrotendências mundiais, mas a resiliência e o empreendedorismo que nos trouxe até aqui poderá com um pouco mais de organização, estratégia e espírito de grupo nos trazer de volta ao protagonismo de outrora.

Extraído da revista Opiniões – Jul/Set 2018

Energias renováveis; em prol de um futuro sustentável

bioeletricidade

No fim de 2017 foi disponibilizado o 31º Balanço Energético do Estado de Minas Gerais (BEEMG), referente ao ano de 2015. Segundo o BEEMG, Minas Gerais apresentou em 2015 uma demanda total de energia de 36,12mi TEP (Tonelada Equivalente de Petróleo), correspondente a 12% da demanda total do Brasil. De 1978 a 2015, Minas Gerais teve um crescimento médio na demanda de energia de 2,3% a.a., contra 2,9% a.a. do Brasil.

No Balanço Global de energia, Minas Gerais se mostra muito deficitário, pois importa 61,1% (22,08mi TEP) de sua demanda total, enquanto produz 44,2% (15,976mi TEP) e exporta apenas (-)5,5% (1,984mi TEP). De acordo com o BEEMG, “O elevado montante de importação de energéticos em Minas Gerais ocorre em função, principalmente, pela necessidade de petróleo e seus derivados e de carvão mineral”.

O petróleo lidera com grande vantagem as importações líquidas, representando 38,54% (7,874mi TEP), e em seguida vêm seus derivados, responsáveis por 16,01% (3,270mi TEP). As importações seguem em ritmo ascendente e, com elas, a dependência externa de energia do estado. Esta crescente dependência externa é preocupante, pois, sendo encabeçada pelo petróleo, pode trazer um déficit financeiro ainda maior devido ao constante aumento do seu preço que, reflete ainda, nos preços de outros produtos e serviços.

Além da preocupação econômica que esses dados nos trazem, há ainda a preocupação ambiental, tema cada vez mais central de discussão no mundo, culminando recentemente no Acordo de Paris. Muito se fala dos carros elétricos como uma solução limpa, mas pouco se pensa sobre as fontes energéticas que os alimentarão.

É hora de darmos atenção à pluralidade da nossa matriz energética para garantirmos um futuro sustentável; o ritmo da demanda de energias não renováveis e poluentes deve ser reduzido para que possamos honrar futuramente os níveis de emissão de gases de efeito estufa determinados por este acordo. No Brasil, o primeiro passo já foi dado com a instituição do programa RenovaBio, mas muito ainda nos falta em termos de descarbonização.

A despeito de uma considerável participação das energias renováveis na demanda mineira (52,7%), encontramos dentre elas um problema que vale destaque. A energia hidráulica tem sofrido constantemente com os baixos níveis dos reservatórios, obrigando-nos a recorrer ao auxílio dispendioso das termoelétricas. Sendo assim, duas fontes energéticas que podem ser valiosas no processo de descarbonização são a solar e dos derivados da cana.

MG tem potencial solar em mais da metade de sua extensão do lado oeste, recebendo em média uma significativa radiação solar direta diária de 6 a 6,5kWh, mas esta fonte ainda possui participação pequena, sendo considerável apenas no médio e longo prazo. A energia dos derivados da cana-de-açúcar (bioeletricidade e etanol), por sua vez, já representa 36,1% da demanda de energias renováveis de Minas Gerais e 19% da demanda total. Dos dois setores de maior demanda energética de Minas Gerais, industrial (61,1% da demanda total) e transportes (26% da demanda total), essa fonte compõe 23,81% do primeiro, ficando atrás apenas da lenha e derivados, e 16,09% do segundo, após o agregado petróleo, gás natural e derivados.

O crescimento da demanda pela energia da cana-de-açúcar e derivados foi notável nas últimas décadas, pois representava apenas 2% da demanda total mineira em 1978 e 7% em 2004, ultrapassando o carvão em 2009, a hidráulica em 2013 e, em 2015, lenha e derivados.

A cana mostrou-se um investimento vantajoso por fornecer em conjunto várias commodities: etanol, açúcar, eletricidade e futuramente biogás e créditos de descarbonização. Nos últimos anos, porém, o crescimento apresentou-se estagnado, com pouco acréscimo na capacidade de processamento de cana das usinas sucroenergéticas.

Na bioeletricidade, há um potencial técnico enorme: além de existirem usinas que ainda não exportam bioeletricidade, há subaproveitamento da palha da cana e do biogás, que podem ser complementares ao bagaço já utilizado.

RenovaBio, crescimento com descarbonização

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Uma forma de ampliar a produção e o uso dos biocombustíveis, com maior eficiência e custo mais baixo ao consumidor, será criada a partir da nova Política Nacional de Biocombustíveis, chamada RenovaBio, que se transformou no Projeto de Lei 9086/17 em análise para aprovação no Congresso Nacional.

A discussão do RenovaBio, durante todo este ano, contou com a participação histórica de todos os elos da cadeia como produtores, entidades de pesquisa e diversas áreas governamentais. O objetivo do programa, além de valorizar os biocombustíveis nacionais, prevê segurança energética, maior geração de empregos e renda, melhoria da qualidade do ar nas grandes metrópoles e incentivos à inovação tecnológica. Tudo isso a partir da meta de descarbonização da matriz de transporte brasileira, de acordo com os compromissos assumidos no acordo climático de Paris.

Com a expansão da oferta e do uso de biocombustíveis, são esperados mais de R$ 1,4 trilhão de investimentos, geração de 1,4 milhão de novos empregos, com uma economia na importação de gasolina e diesel da ordem de 300 bilhões de litros até 2030. O programa tem um potencial de redução de mais de 847 mil toneladas de CO2, equivalente ao plantio de mais de 6 bilhões de árvores.

Apesar dos grandes problemas econômicos, políticos e sociais enfrentados, o Brasil é um dos países que mais se encontra em condições de implementar programas de aumento do uso das energias renováveis no transporte, devido à diversidade de produção.

Uma longa etapa ainda está por vir, pois, após aprovado pelo Congresso Nacional, o RenovaBio ainda dependerá de regulamentação. Mas o país contará com uma política nacional planejada e consistente, para os próximos anos, beneficiando toda a sociedade. Minas e o Brasil têm muito a ganhar com o RenovaBio.

Uma conquista de toda a sociedade brasileira

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No momento em que este artigo é escrito, existe uma enorme ansiedade para que o RenovaBio possa efetivamente existir. Desde dezembro de 2016, quando a ideia do programa foi lançada pelo Ministério de Minas e Energia, dezenas de pesquisadores, lideranças do setor e representantes do Governo Federal se debruçaram para elaborar um programa robusto que promete ser um novo recomeço para o setor de biocombustíveis.

O Brasil é o terceiro maior consumidor mundial de combustíveis líquidos e a participação dos biocombustíveis já é considerável, o que torna qualquer programa nessa área uma grande conquista com impactos altamente positivos sobre a economia local. O etanol anidro é misturado à gasolina no percentual de 27%, o biodiesel possui participação de 8% no diesel vendido no Brasil e o etanol hidratado participa com cerca de 20% do consumo do ciclo Otto no mercado brasileiro.

Além disso, ao longo das últimas décadas, o País construiu uma infraestrutura que possibilita que o biocombustível possa ser consumido por todos os brasileiros. São milhares de postos revendedores, dezenas de estruturas de distribuição, milhares de caminhões transportadores, quilômetros de dutos e milhões de veículos com tecnologia para utilizar os bicombustíveis produzidos no território brasileiro.

Os conceitos/ideias são importantes e não devem ser confundidos com divagações ou teses de consultores ou de burocratas. São a partir deles que construímos as agendas positivas do setor, que geram novas ideias, as quais se transformarão em oportunidades de negócios e boas políticas públicas.

De fato, não há atividade mais complexa do que produzir no território brasileiro, afinal, no dia a dia é preciso conviver com a burocracia excessiva, as ineficiências intrínsecas ao Brasil, fora o próprio risco do negócio. Quando a atividade é agroindustrial, a complexidade aumenta porque, além da atividade de transformação industrial e da dificuldade de comercialização, o produtor precisa conviver com o risco intrínseco da própria agricultura. É por isso que precisamos dos conceitos, das tendências, aquelas que manterão a chama do empreendedor brasileiro viva, mesmo em períodos de crise.

Portanto, é preciso afirmar à sociedade brasileira que os biocombustíveis são uma forma de energia solar, na qual a planta absorve a luz do sol para crescer e transformar em biomassa que servirá de matéria-prima para a produção de combustíveis.

Além disso, é uma energia limpa e renovável, a partir da realização da fotossíntese pelas plantas, que, literalmente, limpam o ar que respiramos. Por outro lado, os combustíveis de origem fóssil são a antítese desse processo, mas temos que considerar que foi a partir deles que alcançamos a atual dinâmica econômica que conhecemos, inclusive algumas dificuldades atuais da humanidade, dentre elas a poluição e o aquecimento global.

A busca pelo desenvolvimento sustentável é ecoada pelos quatro cantos nos diversos discursos de líderes de todas as classes. Esse objetivo norteia as políticas públicas, as relações de consumo e dos negócios de maneira geral. O conceito de desenvolvimento sustentável remete à necessidade de a geração presente manter pelos menos as mesmas condições de vida no planeta para as próximas gerações. Elas foram institucionalizadas nos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, chamados de ODS. Não é algo simplório, contudo, não buscá-los, é simplesmente negar um mundo melhor para os próprios descendentes.

Foi por isso que no ano de 2015, em Paris, os líderes políticos mundiais resolveram estabelecer metas visando um mundo mais sustentável. Eles assinaram um acordo histórico que possibilita reduzir o aumento da temperatura do planeta e, dessa forma, reduzir os efeitos das mudanças climáticas. Como desdobramento dessa meta, há uma grande transformação da economia mundial em curso.

Os países, cada qual de sua forma, têm procurado estabelecer diretrizes para implementar políticas públicas que possibilitem em geral a descarbonização do mundo em que vivemos. E o principal alvo sem dúvida é o setor de energia que representa boa parte das emissões de CO2. O Brasil não é diferente e, apesar da crise institucional, política e econômica em que vivemos, as discussões não pararam e o setor de transporte é talvez aquele com maior potencial de atuação. Enquanto no mundo as emissões do setor de transporte representam cerca de 23% das emissões totais de CO2 do setor de energia, no Brasil alcançamos 43%.

É dentro dessa lógica, de um maior desenvolvimento sustentável, aliada às metas comprometidas pelo País no acordo de Paris, que a ideia do RenovaBio foi concebida. Cumprir as metas climáticas a partir de um setor de grande potencial e diferenciação competitiva da economia brasileira, que alia produção sustentável, desenvolvimento regional, geração de emprego e renda à descarbonização da matriz de transporte brasileira, a partir do uso de mais biocombustíveis, sem dúvida é uma excelente opção para o futuro da sociedade brasileira.

O RenovaBio não nasceu do nada, não é coisa de consultor ou da cabeça dos profissionais que lideram o setor, muito menos é alguma política pública que somente vise beneficiar diretamente a cadeia produtiva dos biocombustíveis. A ideia nasce da incapacidade do mercado de precificar as externalidades negativas trazidas à sociedade pelos combustíveis fósseis. Vale lembrar que essa é uma discussão antiga retratada pela teoria econômica, as chamadas falhas de mercado.

Ao longo dos últimos anos o setor produtivo fez o possível para inserir esse conceito nas relações de consumo do mercado brasileiro; de certa forma, a diferenciação tributária conseguida em certos estados possibilitou, em parte, realizar essa tarefa.

Além disso, o RenovaBio foi concebido para ser um programa de todo o setor de biocombustíveis. Assim, além do etanol de cana, outras formas de combustíveis renováveis também estão integradas ao programa, como o etanol de milho, o biodiesel, o biogás e o bioquerosene de aviação.

Ou seja, é um programa que integrará boa parte da cadeia do agro, da cana-de-açúcar ao milho, passando pela soja e até à pecuária, dado que uma boa parte do biodiesel produzido no Brasil vem do sebo bovino. O programa auxilia a otimização de grande parte da cadeia do agro com a parceria entre a agricultura alimentar e a agricultura energética processada em plantas industriais modernas e eficientes.

Uma longa etapa ainda está por vir até que o primeiro CBio (certificado de descarbonização) possa ser emitido. Toda a regulamentação será criada e a manutenção das atuais regras claras do mercado interno de combustíveis fósseis são essenciais ao futuro do programa. O mercado sofrerá uma mudança significativa na sua estrutura atual, muitas vezes perversa contra quem produz. As metas serão destinadas às companhias distribuidoras, que serão a contraparte dos produtores no mercado de CBio.

A definição da participação dos biocombustíveis na matriz de transporte brasileira será peça-chave nesse processo, ela que definirá o ritmo e o potencial de crescimento da produção e do consumo em território brasileiro. O CBio promete ser um mecanismo de mercado que precifique as externalidades negativas geradas pelos combustíveis fósseis colocando, pelo menos na área de transporte, o Brasil rumo a um desenvolvimento mais sustentável.

Para o setor sucroenergético, o programa promete trazer um grande impacto, uma mudança na cultura do setor. Em primeiro lugar, o RenovaBio provocará uma corrida por eficiência na produção, dado que as usinas serão diferenciadas entre si pelo potencial de descarbonização do etanol produzido por cada uma delas, utilizando o conceito de ciclo de vida.

Ou seja, para um mesmo volume de etanol produzido e comercializado, teremos diferentes quantidades de CBio, que dependerá de diversos fatores do sistema de produção, como produtividade do canavial e quantidade de insumos utilizados. Essa corrida pode levar no médio prazo a uma maior competitividade do setor e preços mais baixos para o consumidor.

Além disso, a criação do CBio poderá trazer uma série de oportunidades financeiras ao produtor. Essa é uma mudança primordial do programa, dado que as usinas possuem diferenças substanciais nos modelos de financiamento da produção de açúcar e de etanol, o que normalmente beneficia a produção do primeiro.

Os instrumentos financeiros que poderão derivar do CBio deverão pelo menos igualar a estrutura hoje existente no açúcar, tornando a produção de etanol mais estável e compromissada com o mercado. Novas parcerias mais sólidas e em linha com o modelo do desenvolvimento sustentável poderão ser lançadas com os demais elos da cadeias, distribuidoras e postos revendedores.

Não há dúvida de que o RenovaBio, se bem implementado, poderá dar um novo impulso ao setor. Modelos de negócios poderão ser revisados, novas oportunidades de criação de valor estarão sobre a mesa, os produtores poderão recuperar o protagonismo perdido durante anos frente a um modelo de mercado cartorial, marcado por intervenções e desestímulos à produção. O RenovaBio é, sim, uma boa ideia para o futuro do setor sucroenergético, e claro, para o Brasil.

O universo do Agro não se resume somente aos grãos

Há muito tempo me incomodava o fato que ao ouvir falar do agro, apenas os grãos eram lembrados. É louvável o desenvolvimento da produção grãos, em especial de soja e milho no país, reconhecemos o movimento de negócios que ele promove e, sem dúvida, este setor representa boa parte do agronegocio brasileiro.

Neste ano o Brasil comemora mais um recorde na produção de grãos, cerca de 232 milhões de toneladas, e desde o início do ano o governo vem destacando este fato em suas comunicações. Inclusive recentemente divulgou a super safra de grãos como responsável pelo crescimento do PIB no primeiro trimestre de 2017 em comparação com o último trimestre de 2016.

Contudo, o agro não é somente grãos, a cadeia é extensa e não podemos esquecer da cana-de-açúcar, da carne, do leite, café, dos produtos florestais, da laranja etc. Desde o início do ano os membros do Forum Nacional Sucroenergético – FNS – tem externado a diversos representantes do ministério da agricultura o incomodo de ver a grande produção de cana não ser lembrada nos discursos e comemorações do sucesso do agro no Brasil. 

Pois bem, durante o lançamento do Plano Agrícola Pecuário 2017/2018, o excelente Ministro da Agricultura Blairo Maggi em seu discurso lembrou que o Agro movimenta anualmente cerca de 1,2 bilhão de toneladas de produtos em todo o Brasil, destacando todas as cadeias deste importante setor da economia brasileira. 

A mudança de discurso é importante por dois motivos. Primeiramente demonstra a grandeza do agro no Brasil, afinal quantos equipamentos, combustível e mão de obra não são necessários para realização desta enorme operação logística de armazenamento e transporte, gerando negócios, oportunidades, emprego e renda para milhares de pessoas. 

Em segundo lugar, chega-se a conclusão que o setor de cana, pelo menos em movimentação de carga, representa mais da metade do agro brasileiro, com uma de produção em torno de 650 milhões de toneladas. 

Uma bola fora do Trump e o troco da sociedade

O presidente dos EUA, Donald Trump, renunciou ao protagonismo ambiental conquistado pelo seu país através do seu antecessor e anunciou a retirada do EUA do Acordo Climático de Paris. Vamos admitir, já esperávamos tal decisão desde sua eleição. Infelizmente, não podíamos esperar uma decisão diferente do mais controverso presidente americano dos últimos anos.

O que nos surpreendeu positivamente foi a manifestação oficial de dezenas de chefes de Estado, incluindo países da União Europeia, China e o próprio Brasil, criticando o ato do presidente americano e afirmando o compromisso com o acordo climático. Além disso, diversos governadores e prefeitos de grandes cidades americanas também se pronunciaram decepcionados com a decisão da Casa Branca que coloca seu país no mesmo grupo de Síria e Nicarágua, únicos países que estavam fora do acordo.

Mas o mais importante recado veio dos diversos conglomerados econômicos afirmando a crença nas mudanças climáticas e que o acordo é essencial para reduzir seus impactos nos próximos anos. Ou seja, foi dado um recado bem claro ao governo americano, o tema ambiental além da necessidade de tomar medidas globais já entrou de vez nos negócios das empresas. Não importa o que o presidente americano pensa, mas sim o que o consumidor americano procura.

É um caminho sem volta, a sociedade está cada vez mais interessada em se informar sobre a origem dos produtos, sua composição, sobre a forma de produção e os seus impactos no meio em que vivemos. Ao Brasil cabe reafirmar seu compromisso e assumir de vez seu papel de protagonista na evolução do debate ambiental mundial.