Unidos na prevenção de incêndios rurais

*Mário Campos 

A chegada do inverno acende alerta e amplia risco de incêndio, principalmente, nas regiões rurais. Entre 2016 e 2021, os incêndios “queimaram” R$ 107,8 milhões só em Minas Gerais, que ocupa a terceira posição do país em prejuízos provocados pelas chamas. Os dados são de um estudo da Confederação Nacional dos Municípios (CNM).

Ano passado apresentou um cenário ainda mais desafiador para Minas Gerais. Segundo o Instituto Estadual de Florestas (IEF), setembro de 2021 foi o mês com mais focos de incêndio dos últimos dez anos. Em média, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou um foco ativo no Estado a cada seis minutos durante o período.

Conforme o IEF, os incêndios no Estado se tornam ainda mais graves devido à grande maioria estar ligada à ação humana. O instituto aponta que 99% de todo o fogo que consome nossas florestas começa a partir desta ação. Ainda segundo o órgão, um terço dos incêndios em Minas, inclusive, é causado por vândalos ou piromaníacos, pessoas que sentem prazer em atear fogo em vegetação e áreas rurais. Já os outros dois terços acontecem por acidentes no manuseio das chamas.

Os incêndios vão além. Eles destroem o ecossistema local, ocasionando enormes danos à flora e à fauna, danos à saúde de pessoas, prejuízos às empresas, destruindo propriedades e provocando perdas para o patrimônio.

Além das perdas já citadas, os incêndios também trazem transtornos que ninguém deseja, como a falta de energia elétrica. De acordo com a Cemig, somente no ano de 2021 foram registradas 936 ocorrências, totalizando 738.140 pessoas que tiveram o fornecimento de energia afetado por focos de incêndio em todo o Estado.

Além do risco de deixar hospitais, residências, comércios e escolas sem energia, provocar incêndios em mata, floresta ou áreas rurais pode ser considerado crime e prevê restrição de liberdade. De acordo com o art. 41 da Lei 9.605/98 (Leis de Crimes Ambientais), pode resultar em pena de reclusão de dois a quatro anos, além de multa.

Diante da premente necessidade, a Siamig – Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais – lançou, em março deste ano, o Instituto Mineiro de Preservação Ambiental Rural (Impar). Uma organização que se dedica à temática ambiental e que nasceu da preocupação do setor sucroenergético em relação aos impactos provocados pelos incêndios e à implementação para prevenir e reduzir esse tipo de ocorrência.

Um dos principais objetivos da Impar consistem em promover ações conjuntas de prevenção aos incêndios rurais e difundir conhecimento acerca das práticas seguras de combate nas comunidades afetadas.

É importante destacar que o setor sucroenergético mineiro, desde sempre, vem promovendo ações para minimizar as perdas causadas pelo fogo. Atualmente, o setor conta com mais de dois mil brigadistas e grande quantidade de equipamentos, como caminhões-pipas, abafadores, sopradores, entre outros, para combater os incêndios, além de oferecer treinamentos aos colaboradores das usinas, em parceria com o Senar-Minas e o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais. O curso foi lançado em julho de 2020 e já formou mais de 440 colaboradores.

Agora, estamos entrando no período mais crítico, entre os meses de julho e setembro, quando o tempo seco e a ventania típicas desta época favorecem a propagação do fogo. Com isso, o Impar, juntamente com toda a cadeia produtiva de cana-de-açúcar, realizará uma campanha de conscientização para combater os incêndios criminosos.

Com o tema “Unidos na Prevenção de Incêndios Rurais”, a campanha, que se inicia no dia 1° de julho e se estende até o final de setembro, visa esclarecer a população de forma geral de que provocar incêndio é crime, pois, além de destruir a biodiversidade, coloca todos em risco e gera grandes prejuízos financeiros.

As ações e a campanha educativa, também nas redes sociais, têm como foco mostrar os cuidados que as pessoas devem tomar para evitar os incêndios ocorridos, normalmente, por práticas perigosas, como o descarte de uma simples bituca de cigarro nas estradas.

A campanha só será eficaz com o apoio de todos. A população também pode fazer a sua parte, engajando na campanha, além de redobrar os cuidados, evitando ações que possam iniciar qualquer tipo de incêndio.

Artigo publicado originalmente no Jornal da Manhã (26/06/22) –

*Presidente da Siamig e do Instituto Impar 

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É necessário recuperar a confiança

O Brasil passa por um dos piores momentos da sua histórica na área econômica e política e ultimamente estamos fazendo mais um trabalho de psicologia, tentando levantar o moral dos nossos compatriotas, do que sendo analista em busca de cenários positivos que acabam por moldar as estratégias empresárias. Isso não é muito diferente no setor sucroenergético que também passa por tempos de provação, exigindo criatividade e resiliência de executivos e empresários do setor.

As grandes transformações globais, se por um lado podem ajudar as cadeias econômicas mais tradicionais, por outro a inovação pode balançar as estruturas e desorganizar sistemas econômicos centenários e já consolidados. No mundo do Agro não é muito diferente, aliás na minha opinião veremos mudanças até maiores nos próximos anos, simplesmente porque o campo de trabalho é extremamente vasto com resultados que poderão aparecer no curto prazo.

Esse processo geralmente requer um tripé muito importante. Incialmente, é necessário ter uma ideia inovadora, que normalmente nasce a partir de um problema identificado, depois é preciso ter a engenharia financeira ou um ecossistema inovador que possibilite essa ideia ser desenvolvida. Por fim, é preciso encontrar um ambiente de aceitação do novo por parte daqueles que poderão efetivamente usufruir da proposta, onde também incluímos a abertura por parte das autoridades reguladoras. Esse movimento é exemplificado pelo mundo das startups, algumas delas já com grande sucesso.

Na indústria em geral se fala muito no 4.0, com uma grande transformação com a robotização e a digitalização dos processos, sensores dão maior capacidade de gerenciamento, correção dos problemas com menor tempo e melhoria dos processos produtivos com mais facilidade. A geração de dados virou uma febre, falta agora saber a melhor forma de organizá-los e o que faremos com eles. Da mesma forma o Agro caminha para o 4.0.

É nesse novo mundo, em constante e rápida transformação que o setor sucroenergético brasileiro precisa se renovar e se remodelar. As estratégias de longo prazo precisam levar em conta as macrotendências mundiais e suas consequências sobre o setor, sendo a primeira os avanços tecnológicos já abordados. Passamos por uma mudança rápida na demografia com um crescimento e envelhecimento da população, associada a uma urbanização acelerada, com a migração do campo. Soma-se a essas três tendências, o deslocamento do poder econômico mundial, principalmente com o crescimento do poderio chinês, além é claro da preocupação cada vez maior com as mudanças climáticas que em geral causa escassez de recursos.

Analisando de perto essas tendências é possível concluir que o setor sucroenergético está totalmente inserido neste contexto com oferta de alimento e energia limpa. Contudo, estamos no Brasil e as incertezas econômicas, políticas e institucionais têm tirado principalmente a confiança tão necessária aos novos investimentos, principalmente na entrada de novos players. Da mesma forma, a falta de confiança no futuro tem afastado jovens talentos e profissionais capacitados do setor.

Algo precisa ser feito, é necessário recuperar a confiança, atualmente o setor tem recebido forte pressão devido aos vultuosos subsídios de países produtores de açúcar, além de campanhas negativas contra o seu uso com alto potencial de impacto no consumo do produto. Pelo lado da energia, há um grande movimento mundial em favor do carro elétrico a bateria, principalmente associado ao aumento do uso de energia solar fotovoltaica, um verdadeiro rolo compressor que prega o uso de vultuosos benefícios com recursos por parte dos fabricantes de equipamentos, governos e, também, pelo mercado financeiro.

A busca da solução começa dentro do próprio setor. A procura da eficiência e menores custos precisa ser intensificado, o setor precisa ficar mais competitivo, para isso será preciso produzir mais sacarose por hectare de cana. A tecnologia está pronta para atender o setor, é preciso intensificar a conectividade do campo com a gestão, os dados precisam ser coletados, transmitidos e auxiliar na tomada de decisão.

Um associado da SIAMIG, recentemente, reportou um fato que corrobora essa análise. A aplicação de defensivos realizadas com máquinas, coloca muitas vezes os colaboradores das usinas em um trabalho solitário e distante da unidade industrial. Em uma área de 500 hectares percebeu-se de um ano para outro uma perda de produtividade de mais de 20% com o aparecimento de uma praga específica, em contraponto com o restante das áreas da empresa. Após a análise do fato, ficou constatado que o funcionário não havia aplicado o produto na área específica no momento correto. Se existisse um sistema de monitoramento interligado, o erro provavelmente teria sido corrigido rapidamente e o prejuízo seria mínimo.

Para tal é necessária uma maior organização no ambiente de pesquisa e desenvolvimento do setor no Brasil, seja no ambiente digital, industrial e principalmente no agrícola. Há uma escassez de recursos geral que tem prejudicado as poucas ações hoje existentes. Devido à atual situação financeira do governo brasileiro, constata-se que a solução passa principalmente pelo setor privado. Iniciativas como o etanol de segunda geração, a cana transgênica ou transformações nos sistemas de produção podem ser aceleradas em um ambiente como esse.

Com a casa arrumada, é necessário um trabalho no ambiente institucional. A primeira ação é a consolidação das regras do mercado de combustíveis no Brasil. Essa proposta passa por 4 pontos, regras de precificação clara dos derivados, aumento da concorrência no mercado de distribuição, o fim do monopólio de fato do refino e do transporte por duto pela Petrobras e claro pela implantação definitiva do RenovaBio. Sem dúvida, essas quatro ações alterariam sobremaneira a percepção do mercado, tanto de produtores quanto de investidores sobre o futuro do etanol no Brasil.

Não menos importante, também no campo institucional, que envolve todo o setor exportador brasileiro, é imprescindível que o Brasil mude sua postura nas negociações comerciais com o mundo. Nosso país tem mais de 200 milhões de habitantes, com um grande mercado consumidor, somos grandes exportadores de commodities e precisamos ter mais efetividade no comércio internacional.

Por fim, o setor precisa se comunicar com a sociedade, um investimento constante e institucional. Não dá mais para negligenciar mais o fato que apesar de setor realizar um grande trabalho, tanto de cunho ambiental quanto econômico social, há um sério preconceito que ronda todas as ações deste setor tão importante para a sociedade brasileira. Isso não é uma suposição, mas sim uma constatação, existe sim uma má vontade generalizada contra o setor de cana no Brasil, é para resolver isso será preciso investir. É necessário engajar toda a cadeia, do produtor de insumos ao produtor de cana, a indústria de máquinas, enfim a todos que de uma forma ou de outra se beneficia de um segmento que gira mais de R$ 100 bilhões todos os anos.

Enfim, o futuro do setor passa pelas próprias mãos do setor, teremos muitos “inimigos” pela frente, setores muito bem organizados e conectados com a mais alta tecnologia e com as macrotendências mundiais, mas a resiliência e o empreendedorismo que nos trouxe até aqui poderá com um pouco mais de organização, estratégia e espírito de grupo nos trazer de volta ao protagonismo de outrora.

Extraído da revista Opiniões – Jul/Set 2018

Energias renováveis; em prol de um futuro sustentável

bioeletricidade

No fim de 2017 foi disponibilizado o 31º Balanço Energético do Estado de Minas Gerais (BEEMG), referente ao ano de 2015. Segundo o BEEMG, Minas Gerais apresentou em 2015 uma demanda total de energia de 36,12mi TEP (Tonelada Equivalente de Petróleo), correspondente a 12% da demanda total do Brasil. De 1978 a 2015, Minas Gerais teve um crescimento médio na demanda de energia de 2,3% a.a., contra 2,9% a.a. do Brasil.

No Balanço Global de energia, Minas Gerais se mostra muito deficitário, pois importa 61,1% (22,08mi TEP) de sua demanda total, enquanto produz 44,2% (15,976mi TEP) e exporta apenas (-)5,5% (1,984mi TEP). De acordo com o BEEMG, “O elevado montante de importação de energéticos em Minas Gerais ocorre em função, principalmente, pela necessidade de petróleo e seus derivados e de carvão mineral”.

O petróleo lidera com grande vantagem as importações líquidas, representando 38,54% (7,874mi TEP), e em seguida vêm seus derivados, responsáveis por 16,01% (3,270mi TEP). As importações seguem em ritmo ascendente e, com elas, a dependência externa de energia do estado. Esta crescente dependência externa é preocupante, pois, sendo encabeçada pelo petróleo, pode trazer um déficit financeiro ainda maior devido ao constante aumento do seu preço que, reflete ainda, nos preços de outros produtos e serviços.

Além da preocupação econômica que esses dados nos trazem, há ainda a preocupação ambiental, tema cada vez mais central de discussão no mundo, culminando recentemente no Acordo de Paris. Muito se fala dos carros elétricos como uma solução limpa, mas pouco se pensa sobre as fontes energéticas que os alimentarão.

É hora de darmos atenção à pluralidade da nossa matriz energética para garantirmos um futuro sustentável; o ritmo da demanda de energias não renováveis e poluentes deve ser reduzido para que possamos honrar futuramente os níveis de emissão de gases de efeito estufa determinados por este acordo. No Brasil, o primeiro passo já foi dado com a instituição do programa RenovaBio, mas muito ainda nos falta em termos de descarbonização.

A despeito de uma considerável participação das energias renováveis na demanda mineira (52,7%), encontramos dentre elas um problema que vale destaque. A energia hidráulica tem sofrido constantemente com os baixos níveis dos reservatórios, obrigando-nos a recorrer ao auxílio dispendioso das termoelétricas. Sendo assim, duas fontes energéticas que podem ser valiosas no processo de descarbonização são a solar e dos derivados da cana.

MG tem potencial solar em mais da metade de sua extensão do lado oeste, recebendo em média uma significativa radiação solar direta diária de 6 a 6,5kWh, mas esta fonte ainda possui participação pequena, sendo considerável apenas no médio e longo prazo. A energia dos derivados da cana-de-açúcar (bioeletricidade e etanol), por sua vez, já representa 36,1% da demanda de energias renováveis de Minas Gerais e 19% da demanda total. Dos dois setores de maior demanda energética de Minas Gerais, industrial (61,1% da demanda total) e transportes (26% da demanda total), essa fonte compõe 23,81% do primeiro, ficando atrás apenas da lenha e derivados, e 16,09% do segundo, após o agregado petróleo, gás natural e derivados.

O crescimento da demanda pela energia da cana-de-açúcar e derivados foi notável nas últimas décadas, pois representava apenas 2% da demanda total mineira em 1978 e 7% em 2004, ultrapassando o carvão em 2009, a hidráulica em 2013 e, em 2015, lenha e derivados.

A cana mostrou-se um investimento vantajoso por fornecer em conjunto várias commodities: etanol, açúcar, eletricidade e futuramente biogás e créditos de descarbonização. Nos últimos anos, porém, o crescimento apresentou-se estagnado, com pouco acréscimo na capacidade de processamento de cana das usinas sucroenergéticas.

Na bioeletricidade, há um potencial técnico enorme: além de existirem usinas que ainda não exportam bioeletricidade, há subaproveitamento da palha da cana e do biogás, que podem ser complementares ao bagaço já utilizado.

RenovaBio, crescimento com descarbonização

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Uma forma de ampliar a produção e o uso dos biocombustíveis, com maior eficiência e custo mais baixo ao consumidor, será criada a partir da nova Política Nacional de Biocombustíveis, chamada RenovaBio, que se transformou no Projeto de Lei 9086/17 em análise para aprovação no Congresso Nacional.

A discussão do RenovaBio, durante todo este ano, contou com a participação histórica de todos os elos da cadeia como produtores, entidades de pesquisa e diversas áreas governamentais. O objetivo do programa, além de valorizar os biocombustíveis nacionais, prevê segurança energética, maior geração de empregos e renda, melhoria da qualidade do ar nas grandes metrópoles e incentivos à inovação tecnológica. Tudo isso a partir da meta de descarbonização da matriz de transporte brasileira, de acordo com os compromissos assumidos no acordo climático de Paris.

Com a expansão da oferta e do uso de biocombustíveis, são esperados mais de R$ 1,4 trilhão de investimentos, geração de 1,4 milhão de novos empregos, com uma economia na importação de gasolina e diesel da ordem de 300 bilhões de litros até 2030. O programa tem um potencial de redução de mais de 847 mil toneladas de CO2, equivalente ao plantio de mais de 6 bilhões de árvores.

Apesar dos grandes problemas econômicos, políticos e sociais enfrentados, o Brasil é um dos países que mais se encontra em condições de implementar programas de aumento do uso das energias renováveis no transporte, devido à diversidade de produção.

Uma longa etapa ainda está por vir, pois, após aprovado pelo Congresso Nacional, o RenovaBio ainda dependerá de regulamentação. Mas o país contará com uma política nacional planejada e consistente, para os próximos anos, beneficiando toda a sociedade. Minas e o Brasil têm muito a ganhar com o RenovaBio.

Precisamos ser protagonistas na nova onda mundial

O objetivo de qualquer país é a busca do desenvolvimento econômico e social, com geração de emprego, renda e oportunidades para sua população. Seja de ideologias de esquerda ou de direita, ou até em países com regimes autoritários, esse tema sempre está presente nos discursos de seus líderes.

Depois de anos de discussão, os líderes mundiais chegaram também à conclusão de que o mundo precisava se unir na preocupação com a qualidade de vida das próximas gerações e assinaram em dezembro de 2015 o acordo climático de Paris, que entrará em vigor quase um ano depois com o apoio das grandes potências econômicas mundiais.

Assim, os discursos dos líderes ao redor do mundo incorporaram as ideias de sustentabilidade e todos debaterão formas de lidar com as mudanças climáticas e como o mundo será deixado para as próximas gerações.

Essa nova forma de pensar, agora institucionalizada, chega num momento de grande transformação dos negócios, com a consolidação da era do conhecimento, onde a inovação virou regra e não uma opção para qualquer segmento econômico que pretende crescer. O aparecimento de tecnologias e negócios disruptivos tem balançado as estruturas de segmentos econômicos já consolidados e mudando a forma de gestão ao redor do mundo.

O mundo vive o tempo do empoderamento do consumidor, que cada vez mais tem moldado os rumos dos segmentos econômicos. Os consumidores querem saber o que compõe os alimentos que estão comendo, de onde vêm as roupas que estão vestindo e como todos os bens são produzidos, principalmente como são as relações sociais dentro de cada cadeia econômica e de onde vêm e como são produzidos os insumos.

O Brasil tem um grande potencial de ser protagonista nesta nova onda mundial principalmente porque temos inúmeras possibilidades de produção de energia limpa, setores produtivos já estruturados além de um grande mercado consumidor de mais de 200 milhões de habitantes.

Para que isso possa ocorrer, o país precisa de planejamento e gestão, transformar as ações essenciais para nosso futuro de política de governo em política de Estado, assim estaremos pensando nas novas gerações e caminhando de forma sustentável. O Brasil precisa modificar sua cultura do adiamento, o que gera grandes dificuldades de cumprimentos de metas, o famoso “jeitinho” brasileiro.

Nos países desenvolvidos quando uma meta é estabelecida, em geral os segmentos econômicos procuram se antecipar, no Brasil infelizmente deixa-se tudo para última hora e ainda se trabalha para um adiamento.

O momento que vivemos demonstra que a época do improviso já passou, que as políticas populistas que privilegiam o hoje em detrimento do amanhã demonstraram ineficazes em construir uma nação mais justa e de oportunidades. A responsabilidade politica com a nação levará o país às melhores escolhas, para isso os setores econômicos precisam se organizar e apresentar suas propostas.

A oportunidade para o setor sucroenergético está colocada na sua frente e o setor precisa ser protagonista desta transformação do país, se posicionando como uma das melhores opções.  E esse protagonismo só é possível porque o setor é um grande produtor de energia limpa e renovável, é um grande transformador de energia solar, a partir da cana, em produtos energéticos para a sociedade.

Esse protagonismo é um trabalho de construção, que começa pela montagem e apresentação do discurso, que precisa ser não só somente interessante para as empresas do setor, mas também para toda a sociedade brasileira. Para tal, não é possível pensar somente nos próximos dois anos, mas sim ter uma visão de longo prazo com um planejamento e metas que não pode vir de cima para baixo, nem imposto pelo segmento econômico, mas sim construído a diversas mãos entre setor privado e setor publico, em prol do desenvolvimento econômico sustentável do Brasil.

Dito isso, a construção de uma politica de longo prazo para o setor se dará olhando de forma inteligente para a oferta e demanda e as formas de equilibrá-las nos próximos anos. Não se pode esquecer que o setor é um grande fornecedor de alimentos, e qualquer discussão de política pública não dará certo se não considerar e entender que as usinas brasileiras continuarão a ser o maior fornecedor mundial de açúcar, seja qual for o tamanho do mercado.

Essa é uma premissa importante para qualquer modelo a ser desenvolvido. Sabe-se hoje o tamanho deste mercado, também sabe-se que seu crescimento, se existir, será apenas vegetativo de acordo com o crescimento da população e mudanças de hábitos de consumo.

Do lado da demanda, a preocupação deve ser a manutenção do crescimento do mercado. Indústria que não tem mercado, morre. Vivemos no limiar de uma grande transformação de percepção de consumo onde a energia renovável ganha grande força. O ponto de partida para o setor é demonstrar que possui produtos importantes como as energias solar e eólica, mas muito superiores quando se analisa o conjunto da obra em termos de empregos gerados, interiorização e descentralização de investimentos, além de tecnologia e conteúdo nacional.

A onda do carro híbrido e elétrico passa a não ser mais a preocupação, se mecanismos de incentivos públicos induzirem as indústrias a ofertar híbridos flex, com o conceito 100% verde, e também quando a discussão tecnológica atinge patamares mais elevados como o carro à célula de combustível, um modelo a etanol apresentado pela Nissan nas Olimpíadas do Rio.

O futuro do veículo a combustão é incerto, contudo nos próximos anos o mercado para esses veículos ainda será muito grande. A ANP e o MME já indicaram o grande gap energético de combustíveis que o país terá até 2030. Uma nova organização logística e a mudança das obrigações dos players do mercado, aliado ao fortalecimento do órgão regulador, serão necessárias para manter a segurança do abastecimento.

Mas além de induzir e regular, o governo precisa reconhecer o seu papel para correção das falhas de mercado, exemplificadas neste caso pelo uso de combustíveis fósseis e suas inerentes externalidades negativas. Para isso, a criação de um imposto ambiental é essencial a fim de induzir o uso de energias renováveis e limpas em detrimento da energia fóssil.

No lado da oferta, o primeiro grande desafio é tornar a cana-de-açúcar cada vez mais produtiva, com a aplicação da inovação e da gestão do conhecimento na cultura. Novas variedades, novas formas de plantio, cultivo e controle das pragas, o aperfeiçoamento das práticas agrícolas, da forma de colheita e transporte poderão abrir novas possibilidades para atingir o almejado canavial com produtividade de três dígitos.

Novas formas de produzir precisam ser incentivadas, com criação de mecanismos que incentivem o aumento da escala de produção e a produtividade da agroindústria. O etanol de 2° geração juntamente com o aumento da produção de bioeletricidade a partir de outras fontes além do bagaço, como a palha e o biogás, podem elevar a competitividade e o aspecto sustentável do setor.

Toda essa construção do discurso precisa ser feita sob uma governança comprometida com o objetivo de construir um setor mais competitivo, mais lucrativo e mais sustentável. E para tal, é muito importante que o setor construa o engajamento dos stakeholders e da sociedade a favor deste objetivo, assim conseguirá criar mais valor aos produtos produzidos a partir da cana.

O futuro do setor está nas mãos do próprio setor. O discurso não pode continuar difuso, reflexo dos diversos interesses presentes no segmento, precisa convergir para um caminho comum, aproveitar um governo, que é curto, mas que quer dialogar e deixar sua marca na história brasileira. Precisamos entender que estamos do lado certo da história, porque a busca pela sustentabilidade está moldando os negócios e os investimentos ao redor do mundo.