Os 20 anos do carro flex no Brasil

Mário Campos*

Etanol ou gasolina? Você certamente já ouviu (ou disse) essa frase, mas o que você sabe sobre os carros flex? Tecnologia 100% brasileira comemora duas décadas este ano. Bem antes de temas como descarbonização ou mobilidade sustentável ganharem o mundo, o mercado automotivo brasileiro já se notabilizava pela peculiaridade de usar um combustível limpo, o etanol, como fonte energética em seus motores a combustão.

O carro flex-fuel caiu no gosto popular dos brasileiros, sendo um item indispensável na hora de se comprar um automóvel novo. A vantagem de poder escolher o combustível no momento do abastecimento e não mais na concessionária, trouxe mais liberdade ao consumidor.

A história do uso do álcool combustível no Brasil, ou etanol, remonta aos anos 20 do século passado com o uso do USGA desenvolvido pela centenária Usina Serra Grande em Alagoas e ganhou grandes proporções com as consequências dos choques dos preços do petróleo na década de 70, primeiro com a intensificação do uso do etanol misturado à gasolina e depois com o lançamento em 1979 do primeiro veículo a álcool hidratado no Brasil. Do sucesso das vendas dos veículos a álcool, na primeira metade da década de 80, às dificuldades vistas no final desta década e ao longo da seguinte, o Brasil desenvolveu um sistema de produção e distribuição de etanol que atingiu os quatro cantos do país.

Ao final de 2002, as vendas de carros a álcool no Brasil representavam “traço” na estatística e a frota circulante caía a cada ano e já chegando a representar 15%. A oferta ainda consistente de etanol mantinha naquele momento os preços bem competitivos e muitos consumidores passaram a misturar gasolina e etanol no momento do abastecimento por conta própria, o chamado “rabo de galo”.

A indústria automobilística já desenvolvia desde a década de 80 uma tecnologia que permitisse que os veículos operassem com etanol e gasolina ao mesmo tempo. Em março de 2003, a tecnologia flex-fuel estreou com a Volkswagen apresentando, durante a festa de comemoração de 50 anos de operação no país e com direito à presença do então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, o Gol 1.6 Total Flex.

O modelo da Volkswagen seria o primeiro de uma série de lançamentos que ganharam o mercado, com a nova tecnologia. O “flex” brasileiro, como foi batizado, capaz de consumir etanol, gasolina ou qualquer mistura entre os dois combustíveis, de modo a dar, ao consumidor final, o direito de escolha do combustível a cada abastecimento, considerando seu custo, disponibilidade ou qualquer outro atributo de sua conveniência.

O crescimento da frota capaz de abastecer com etanol devolveu ao hidratado o potencial de concorrência com a gasolina. Uma ampla janela de oportunidades se abria para o setor sucroenergético brasileiro e o mercado interno voltava a ser ponto fundamental para o crescimento do setor no Brasil. Naquele momento, o mercado era sustentado pela mistura obrigatória de etanol anidro na gasolina e por uma frota em acelerada depreciação dos antigos carros a álcool. O lançamento do carro flex e seu sucesso a partir de 2003 muda de forma estrutural o setor sucroenergético e todo o mercado de combustíveis no Brasil. Os dados históricos demonstram a grande aceitação do flex-fluel pelos consumidores, após 2 anos de mercado, os veículos flex já representavam mais da metade das vendas no país.

A evolução do flex no Brasil decorre de uma série de fatores que auxiliaram a dinâmica da oferta de novos modelos de automóveis com essa tecnologia, o crescimento da produção de etanol no país e o incremento das estruturas logísticas, transporte, armazenamento e bombas nos postos de combustíveis.

O país passou por um crescimento vertiginoso de sua frota nos anos subsequentes ao lançamento do flex o que possibilitou sua rápida renovação. Atualmente, de cada 100 veículos rodando nas ruas e rodovias do país, 84 são flex e podem ser abastecidos com etanol. Além disso, o crescimento da preocupação ambiental e o aumento dos preços do petróleo elevaram os preços da gasolina dando ainda mais espaço para o combustível limpo e renovável.

Contudo, a mudança mais estrutural que se viu foi uma série de políticas públicas focalizadas no etanol e na sua competitividade a partir da criação de um diferencial tributário, tanto a nível federal, quanto a nível dos Estados. Já em 2001, o governo federal lançava a CIDE-Combustíveis, incidindo sobre combustíveis fósseis. Em dezembro de 2003, o então governador de São Paulo e atual vice-presidente da república, Geraldo Alckmin, sanciona a lei que reduz a alíquota ICMS do etanol hidratado de 25% para 12%, tornando-se o primeiro estado a adotar essa medida. A lei entrou em vigor em 2004 e foi seguida por outros Estados nos anos seguintes.

Atualmente, 14 Estados estabelecem diferenciais tributários de ICMS entre etanol hidratado e gasolina. A questão é tão crucial a esse mercado que em 2022 o Congresso Nacional decidiu por colocar na Constituição Brasileira, no seu capítulo que trata de meio ambiente, a obrigatoriedade de apresentar um diferencial tributário entre etanol e gasolina no que tange os impostos federais e estaduais. Com tributação menor e mais competitivo que a gasolina, o consumidor era incentivado, além de comprar um veículo flex, a também abastecer com o etanol hidratado.

Os 20 anos do carro flex-fuel chegam quando as atenções do mundo se voltam para as fontes alternativas de energia de baixa emissão, onde o etanol precisa ter um grande destaque. Além da forte tendência global de eletrificação no setor automobilístico.   

O conjunto de agentes de mercado que compõem o ambiente do etanol no Brasil está atento à essa tendência e, em um movimento de antecipação, quer fazer da ameaça de mercado uma oportunidade para consolidar o papel socioambiental do biocombustível.

A eletrificação de veículos é associada aos carros movidos a bateria. Mas essa não é a única possibilidade, existem alternativas, como os modelos híbridos flex, já lançados no Brasil e a célula a combustível. Nesse último, o etanol é fonte de hidrogênio que alimenta o sistema em forma de energia.

O Brasil é um mercado pioneiro na junção do etanol à eletrificação em busca de soluções para reduzir o impacto ambiental. O carro híbrido e o movido a hidrogênio, são possibilidades diferenciadas dentro do mercado brasileiro, que já contam com apoio da indústria automobilística e de diferentes montadoras. Para um país que criou sua própria rota nos últimos 50 anos para driblar crises e incentivar ainda mais suas vocações internas, não nos parece difícil pensar que no futuro da mobilidade sustentável o etanol continuará tendo protagonismo inclusive para além das fronteiras brasileiras.

 *Presidente da Associação das Indústrias Sucroenergética de Minas Gerais

Fonte: Artigo publicado originalmente na revista Opiniões – edição fev/março 2023

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Unidos na prevenção de incêndios rurais

*Mário Campos 

A chegada do inverno acende alerta e amplia risco de incêndio, principalmente, nas regiões rurais. Entre 2016 e 2021, os incêndios “queimaram” R$ 107,8 milhões só em Minas Gerais, que ocupa a terceira posição do país em prejuízos provocados pelas chamas. Os dados são de um estudo da Confederação Nacional dos Municípios (CNM).

Ano passado apresentou um cenário ainda mais desafiador para Minas Gerais. Segundo o Instituto Estadual de Florestas (IEF), setembro de 2021 foi o mês com mais focos de incêndio dos últimos dez anos. Em média, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou um foco ativo no Estado a cada seis minutos durante o período.

Conforme o IEF, os incêndios no Estado se tornam ainda mais graves devido à grande maioria estar ligada à ação humana. O instituto aponta que 99% de todo o fogo que consome nossas florestas começa a partir desta ação. Ainda segundo o órgão, um terço dos incêndios em Minas, inclusive, é causado por vândalos ou piromaníacos, pessoas que sentem prazer em atear fogo em vegetação e áreas rurais. Já os outros dois terços acontecem por acidentes no manuseio das chamas.

Os incêndios vão além. Eles destroem o ecossistema local, ocasionando enormes danos à flora e à fauna, danos à saúde de pessoas, prejuízos às empresas, destruindo propriedades e provocando perdas para o patrimônio.

Além das perdas já citadas, os incêndios também trazem transtornos que ninguém deseja, como a falta de energia elétrica. De acordo com a Cemig, somente no ano de 2021 foram registradas 936 ocorrências, totalizando 738.140 pessoas que tiveram o fornecimento de energia afetado por focos de incêndio em todo o Estado.

Além do risco de deixar hospitais, residências, comércios e escolas sem energia, provocar incêndios em mata, floresta ou áreas rurais pode ser considerado crime e prevê restrição de liberdade. De acordo com o art. 41 da Lei 9.605/98 (Leis de Crimes Ambientais), pode resultar em pena de reclusão de dois a quatro anos, além de multa.

Diante da premente necessidade, a Siamig – Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais – lançou, em março deste ano, o Instituto Mineiro de Preservação Ambiental Rural (Impar). Uma organização que se dedica à temática ambiental e que nasceu da preocupação do setor sucroenergético em relação aos impactos provocados pelos incêndios e à implementação para prevenir e reduzir esse tipo de ocorrência.

Um dos principais objetivos da Impar consistem em promover ações conjuntas de prevenção aos incêndios rurais e difundir conhecimento acerca das práticas seguras de combate nas comunidades afetadas.

É importante destacar que o setor sucroenergético mineiro, desde sempre, vem promovendo ações para minimizar as perdas causadas pelo fogo. Atualmente, o setor conta com mais de dois mil brigadistas e grande quantidade de equipamentos, como caminhões-pipas, abafadores, sopradores, entre outros, para combater os incêndios, além de oferecer treinamentos aos colaboradores das usinas, em parceria com o Senar-Minas e o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais. O curso foi lançado em julho de 2020 e já formou mais de 440 colaboradores.

Agora, estamos entrando no período mais crítico, entre os meses de julho e setembro, quando o tempo seco e a ventania típicas desta época favorecem a propagação do fogo. Com isso, o Impar, juntamente com toda a cadeia produtiva de cana-de-açúcar, realizará uma campanha de conscientização para combater os incêndios criminosos.

Com o tema “Unidos na Prevenção de Incêndios Rurais”, a campanha, que se inicia no dia 1° de julho e se estende até o final de setembro, visa esclarecer a população de forma geral de que provocar incêndio é crime, pois, além de destruir a biodiversidade, coloca todos em risco e gera grandes prejuízos financeiros.

As ações e a campanha educativa, também nas redes sociais, têm como foco mostrar os cuidados que as pessoas devem tomar para evitar os incêndios ocorridos, normalmente, por práticas perigosas, como o descarte de uma simples bituca de cigarro nas estradas.

A campanha só será eficaz com o apoio de todos. A população também pode fazer a sua parte, engajando na campanha, além de redobrar os cuidados, evitando ações que possam iniciar qualquer tipo de incêndio.

Artigo publicado originalmente no Jornal da Manhã (26/06/22) –

*Presidente da Siamig e do Instituto Impar 

A arte de driblar as adversidades extremas

Seca severa, geada brusca e grande quantidade de incêndios no Brasil. Chuvas “ mortais” na Europa e inundações “relâmpagos” nos Estados Unidos. Fenômenos extremos já são percebidos em todo o mundo e são fortemente creditados pelos cientistas às mudanças climáticas. E se tem um dos setores mais atingidos por esse “caos” climático da natureza é a agricultura, que tem arcado com perdas de lavoura, aumento no custo de produção, e necessitado de investimentos para controlar e prevenir danos ainda maiores.

O setor sucroenergético sentiu, drasticamente, no ano passado o que os extremos climáticos podem provocar na produção e hoje carrega um custo muito mais pesado, e tem que implementar medidas de recuperação e prevenção a prováveis riscos ambientais no futuro. A seca prejudicou o desenvolvimento dos canaviais; as geadas agravaram o estado da cana que estava para ser colhida e principalmente as rebrotas, além de intensificar a propagação do fogo nos meses de agosto e setembro de 2021, afetando grandes áreas plantadas com impacto nas próximas safras.

Neste cenário complexo, com menor quantidade de cana, a oferta de etanol ficou bem restrita comparada à safra 20/21, ocasionando uma forte queda do share do biocombustível no mercado nacional. De outro lado, isso contribuiu para que o produto tivesse bons preços na usina, com uma alta no preço médio nos 12 meses de 61,5% em comparação ao ano de 2020. O preço do açúcar no mercado internacional bateu recordes em reais, puxado por uma soma de fatores como da recuperação do preço em dólar juntamente com a moeda nacional mais desvalorizada. No mercado de energia, em função da severa seca, também foi possível verificar uma valorização dos preços, contudo nem todas as usinas conseguiram se beneficiar devido a redução da biomassa disponível.

Os produtores não puderam, porém, comemorar os preços melhores para seus produtos na atual safra, pois enfrentam uma das maiores altas dos custos de produção nos últimos anos, principalmente de fertilizantes, defensivos, diesel, maquinário e peças de reposição, acentuados, neste momento, pelo grande aumento da taxa de juros básica da economia, elevando o custo do dinheiro para capital de giro e financiamento.  Os efeitos da pandemia como a desorganização das cadeias de suprimento, aumento da inflação e alta do dólar impactaram também, fortemente, os preços dos insumos além de tornar alguns deles escassos.

Nas rodas do setor, as conversas sobre o preço dos insumos ficaram muito comuns em 2021. Talvez, o maior exemplo foi do ácido sulfúrico usado na produção de etanol, onde os valores explodiram. Mas não foi o único, o efeito foi generalizado. A partir de abril, quando os balanços das empresas começarem a ser publicados teremos uma visão mais clara de quem foi o ganhador na safra 2021/22: se foi a alta do preço dos produtos ou a alta dos custos.

Ficam, portanto, os aprendizados e a necessidade de olhar para frente. O primeiro desafio é recuperar o canavial. As chuvas até o momento se mostraram adequadas para o bom desenvolvimento da cana, mas os problemas enfrentados em 2021 ainda permanecerão nos próximos anos. A sequência de seca, geada e incêndios deixaram muitas áreas com falhas e com atraso de desenvolvimento, sendo que muitas delas já foram replantadas ou precisarão ser reformadas mais cedo. A mesma chuva que ajudou as áreas de cana, até agora, atrasou o cronograma de plantio pressionando ainda mais o calendário do setor. O início da safra 22/23 está sendo muito discutido, com forte tendência de ser mais tardio.

Outros desafios a serem enfrentados é na prevenção de riscos como por exemplo os investimentos na irrigação, seja de salvamento ou plena para o período mais seco. Apesar de tudo, a expectativa é de uma recuperação da moagem na safra 22/23, mas não alcançando, ainda, o recorde de 2020. Com a melhoria da condição financeira, o produtor deve olhar para todas essas medidas visando o aumento da produtividade, de uma forma diferenciada para cada usina de acordo com suas peculiaridades. Se tirarmos também o efeito climático, os resultados do canavial ao longo dos últimos anos estão progressivamente melhorando de forma generalizada pelo país.

A manutenção da política de preços para derivados de petróleo no Brasil, o RenovaBio, as discussões sobre o futuro da mobilidade sustentável no país, somados aos grandes resultados do combate às reduções de subsídios ao açúcar em países concorrentes têm gerado um ambiente positivo para investimento no setor!

Minas Gerais, por exemplo, foi um dos estados mais atingido pelos “extremos do clima” no ano passado, principalmente, com os episódios de geada nas áreas de cana do Triângulo Mineiro, deixando um grande rastro de destruição. Com isso, mesmo apresentando um aumento da área de moagem em 2021, com potencial de 72,3 milhões de toneladas de cana, a safra mineira 21/22 não deverá passar dos 64 milhões de toneladas.

Mas, com ganhos melhores o ano passado, os produtores mineiros se mostram otimistas com o futuro do setor e apresentaram, no final do ano passado, um plano de investimentos para o governador do estado Romeu Zema. O grande desafio, hoje, é ter cana, e para isso o estado contará com forte investimento no aumento da área plantada e crescimento na produtividade, com investimentos anunciados de R$ 6 bilhões nos próximos oito anos. Até lá a expectativa é se tornar o segundo maior produtor de cana-de-açúcar do Brasil, chegando a moer cerca de 95 milhões de toneladas/safra.

O crescimento da moagem de cana reverterá numa produção maior de etanol e açúcar, podendo chegar a 5 bilhões de litros de etanol e 6 milhões de toneladas de açúcar. Além disso, a geração de energia tem um potencial de dobrar, alcançando os 6 milhões de MWh, o que daria para abastecer 2,2 milhões de habitantes, mais de 10% do total da população de Minas Gerais. A geração de novos empregos diretos e indiretos poderia alcançar 58 mil, que se somariam aos 167 mil atuais. Há também um grande potencial de produção de biogás/biometano, com investimentos que já estão sendo analisados no estado.

A agricultura tem que mostrar seu valor, pois é um dos mais importantes setores da economia e influencia, decisivamente, no desenvolvimento e crescimento dos países. É preciso dar todo apoio e valorizar esse segmento, que tem sido um dos mais atingidos pela mudança climática e se mostrado resiliente no drible desse fenômeno. Cada um tem que fazer a sua parte para conter esses extremos, contribuindo com o uso de produtos menos poluentes e sistemas mais sustentáveis.

No Brasil, o consumidor já encontra disponível na bomba dos postos o etanol, biocombustível limpo e renovável, e poderá contar num futuro próximo com mais disponibilidade da energia verde. Não podemos desanimar frente às dificuldades e o setor sucroenergético continuará dando sua grande contribuição ao desenvolvimento econômico-social do Brasil, com sustentabilidade!  

Artigo publicado originalmente na Revista Opiniões – n° 71 | Fev-Abr 2022

Agroindústria da cana-de-açúcar: uma riqueza para o país

Quem ainda não decorou o bordão “agro é a indústria riqueza do Brasil”? A propaganda de TV reforça o que se sabe sobre um dos mais fortes segmentos da atividade econômica brasileira na atualidade, senão o primeiro no ranking. Para essa performance, a produção da cana-de-açúcar, etanol, açúcar e bioeletricidade tem sido fundamental, em especial na região de Uberaba, com geração de mais de 160 mil empregos diretos e indiretos, e grande geração de renda. O Brasil é hoje o maior produtor global de açúcar do mundo e segundo em etanol, com a adoção de práticas sustentáveis e a expectativa de novos produtos. No Dia da Indústria, a SIAMIG (Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais) parabeniza a agroindústria da cana no estado de Minas Gerais e seu presidente, Mário Campos, fala um pouco das expectativas para este ano.

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JM – Quais os desafios e perspectivas do setor para 2021?

MÁRIO CAMPOS – 2021 será um ano de grande desafio para o setor sucroenergético de Minas Gerais em função da grande estiagem que nós tivemos no 2º semestre de 2020 e as poucas chuvas no verão desse ano. A perspectiva é que a gente tenha uma queda da safra de cana-de-açúcar no estado para 65,5 milhões de toneladas, depois de ter atingido o recorde de produção na safra 2020/2021 (70,8 milhões de toneladas. O segmento tinha preparado para apresentar inclusive uma safra maior do que a do ano passado, a área de cana de Minas Gerais para moagem aumentou em 2%, no ano passado, tivemos duas reativações de usinas, investimentos de outras empresas, mas infelizmente em função da seca a gente não vai conseguir ter essa safra maior. Isso vai refletir nos produtos, tanto açúcar como etanol, que vão sofrer uma queda de produção, mas totalmente adaptada às condições do mercado. Se a gente pensar na questão do açúcar, boa parte é exportado, mas outros países do mundo têm aumentado também a sua produção e a redução da produção brasileira de açúcar vai ser assimilada para outros países. No caso do etanol, nós ainda temos um efeito muito forte da pandemia na mobilidade das pessoas, a expectativa é que 2021 não atinja os períodos pré-pandemia em termos de consumo de combustíveis. Essas reduções na produção de etanol são totalmente assimiladas pelo mercado. A gente ainda não sabe se teremos uma 3ª onda, um novo período de fechamento, de recessão de mobilidade. É um ano de desafio, mas um ano de produção menor, mas com preços bem remuneradores para o setor, isso tem ainda mantido uma perspectiva boa em termo de resultado.

JM – Com a pandemia, o perfil da produção das indústrias sucroenergéticas sofreu alteração substancial? Voltou-se mais para as exportações?

MÁRIO CAMPOS – No início da pandemia nós tivemos uma recessão muito grande da mobilidade, isso afetou o mercado interno do etanol.  Tivemos um momento de redução muito forte do preço do petróleo no mercado internacional e nos preços de gasolina no mercado interno. Nossas empresas, que tem uma flexibilidade de produção, conseguiram direcionar uma boa parcela da produção de cana-de-açúcar para o açúcar e o mercado internacional naquele momento era mais demandante pelo produto brasileiro. Países como Índia e Tailândia tiveram essas reduções nas produções em função dos períodos de seca, isso fez com que o Brasil produzisse não só a maior produção da sua história de açúcar, mas também exportasse a maior produção dentro do histórico, foram mais de 13 milhões de toneladas a mais do que o ano anterior. Conseguimos aproveitar esse bom momento, e é claro, a desvalorização do câmbio ajudou muito, a receita das empresas brasileiras e obviamente a exportação que é do açúcar. A produção do etanol foi reduzida adaptando à recessão de mercado que nós tínhamos, mas ainda é um produto com alta produção. Em Minas Gerais vendemos mais de 3 bilhões de litros de etanol, então é uma oferta considerável. No Brasil, são quase 30 bilhões de litros de etanol e agregando inclusive etanol de milho. Além disso, também veio a política de ajudar a população mais carente e o açúcar no mercado interno foi impactado de forma positiva, houve uma demanda adicional somente durante o ano de 2020, o que também ajudou as vendas.

JM – Muito se diz que o RenovaBio é o grande desafio da indústria sucroenergética desta década. Na sua avaliação, até que ponto e de qual forma a cadeia produtiva da cana pode contribuir com a descarbonização da atmosfera?

MÁRIO CAMPOS – Esse programa é sensacional porque ele possibilita a transição energética para combustíveis de baixo carbono, num mundo com preocupação ambiental mais acentuada. Sem dúvida a eleição do presidente americano Joe Biden mudou de forma considerável o direcionamento do mundo com relação a fazer algo contra as mudanças climáticas. Aqui no Brasil conseguimos construir um mercado de carbono, de compensações dentro de um segmento de transporte. A política do RenovaBio não é só para o setor de etanol, é para combustíveis em geral onde há substitutos renováveis e limpos. Foi um passo importantíssimo para o Brasil, e estamos empenhados em ser cada dia melhores dentro deste programa. Além disso, ele tem um outro ponto muito positivo: o programa faz uma análise individualizada de cada empresa de acordo com a sua capacidade de descarbonização.  

JM – Há expectativa de crescimento e geração de energia elétrica de bagaço de cana?

MÁRIO CAMPOS – Minas Gerais exporta cerca de 3,2 milhões megawatt-hora de energia, é uma exportação muito considerável. Só para que todos tenham uma ideia, essa exportação representou 5,5% de toda produção de energia dentro do estado. Das 36 usinas em Minas, 23 exportam (comercializam no mercado interno) energia e outras já estão estudando formas de entrar no mercado e tem um potencial muito grande no biogás, que tem aparecido como alternativa e pode ser produzido a partir da vinhaça. Depois com a sua purificação podemos ter o biometano, que é um gás que conseguimos utilizar inclusive na própria frota de caminhões caso tiver sido adaptada. Mas o biogás também pode ser usado para produção de energia elétrica, então tem um potencial muito grande de utilização desse biogás descentralizando a produção de gás no Brasil. Hoje temos uma dependência muito grande ou do gás importado ou do gás natural que vem da exploração de petróleo no mar, então também é uma forma de ofertamos gás renovável, diferente do gás de origem fóssil. O setor tem um potencial muito grande dentro dessa área e esperamos que nos próximos anos tenhamos boas novidades aqui no estado com relação ao biogás.

Fonte: JM – 25/05

A importância da boa relação

Peter Drucker, reconhecido como o pai da administração moderna dizia “a melhor forma de prever o futuro é criá-lo” e que “o plano de longo prazo não lida com decisões futuras, mas com o futuro das decisões presentes”. As incertezas trazidas pelo momento que a sociedade passa em meio a uma pandemia nunca vivida por nossas gerações vivas é um convite para fazermos uma reflexão sobre como chegamos até aqui, mas acima de tudo, como seguiremos rumo ao futuro.

O setor sucroenergético brasileiro chegou com muita força em 2021, reforçando a liderança mundial na produção e exportação de açúcar, sendo parte do maior programa de transição energética do planeta já realizado com forte presença do etanol, supridor de oferta importante de energia elétrica para o país, e, além disso, possuindo um potencial tremendo na oferta de biogás. Tudo isso utilizando da maior vantagem comparativa do Brasil, a sua vocação e competitividade agrícola.

Esse é o trabalho dos valorosos produtores brasileiros que, mesmo com todos os altos e baixos dos últimos anos, continuam resilientes e firmes para serem cada dia mais produtivos, inovadores e competitivos. A gestão empresarial é complexa e demanda vários tipos de habilidades e tempo em diversas áreas como a de recursos humanos, operacional, financeira, comercial, marketing. Além do trato e cuidado com o relacionamento junto aos diversos stakeholders ligados ao ecossistema produtivo.

 Essa interface tem se mostrado extremamente importante com a finalidade de criar um ambiente mais amigável e que dê suporte ao desenvolvimento e crescimento dos empreendimentos rumo a um futuro mais sustentável e seguro. É neste contexto que as Associações e Sindicatos têm mostrado a importância do seu papel de articulação no trabalho institucional e/ou político bem-feito em prol dos interesses do setor sucroenergético em nível local, regional e nacional.

Essas entidades são hoje profissionalizadas e possuem um histórico fantástico de conquistas que ajudaram o setor a chegar em 2021 mais forte e competitivo. Foram decisões surgidas no âmbito dessas diversas associações, com participação dos empresários, e articuladas com o centro de decisão, que propiciaram que o país, por exemplo, seja o único do mundo onde um motorista pode chegar em um posto de combustível e abastecer o seu veículo exclusivamente com biocombustível.

Desde o Proálcool, criado para que o país fizesse frente à crise internacional do petróleo nos anos de 1970 até mais recentemente com a criação do Renovabio, foi o trabalho institucional articulado pelas associações/sindicatos com outras esferas, como a academia e outros segmentos econômicos, que possibilitou a criação de políticas tão importantes para o setor, com benefício para toda a sociedade.  Também não podemos deixar de citar o grande trabalho realizado ao longo dos últimos 30 anos de abertura de mercado ao açúcar brasileiro atualmente exportado para as várias partes do mundo.

O Brasil é um país com o regime democrático e apesar de alguns não entenderem bem a importância da política na vida social, essa ou a melhor decisão política sempre terá um papel determinante na construção do futuro. Nesse momento em que a política se mostra tão diversa e mutante, as associações são fundamentais para aglutinar as necessidades de seus associados, formar uma base de conhecimento sobre as demandas e articular os pleitos seja no Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como numa atuação consistente junto à Opinião Pública. Apesar de ser também legítima, a atuação individual é mais difícil e arriscada e pode encontrar muitas resistências no trato na esfera institucional/política.

Um bom exemplo dessa ação institucional efetiva da associação dos produtores sucroenergéticos de Minas Gerais, relativamente recente, foi o trabalho junto ao legislativo e executivo que levou à redução da alíquota de ICMS do etanol hidratado, gerando competitividade e criando um mercado que antes não existia. Da mesma forma podemos citar outros estados, como São Paulo que foi pioneiro na diferenciação de alíquotas de ICMS. Os estados do Centro Oeste com suas políticas de atração de investimentos e incentivos ao consumo doméstico, alguns estados do Nordeste com excelentes regimes tributários, que contribuíram para estancar o fechamento de unidades produtoras e propiciaram novas oportunidades produtivas para a região.  

Já em nível federal, assuntos que atingem os produtores de vários estados são articulados de forma coletiva, numa união de esforços e expertise, a fim da criação de legislações e políticas públicas, como a que entrou em vigor em dezembro de 2019, o RenovaBio, que visa dobrar a produção de etanol até 2030. No bojo do cumprimento do Acordo de Paris e das metas brasileiras de redução dos gases do efeito estufa, essa política pública surge como uma das mais importantes, mundialmente, na descarbonização da matriz de transporte. Juntando as pontas dos produtores, governo, distribuidores de combustível foi possível montar um dos programas mais avançados do mundo contemporâneo em prol do desenvolvimento sustentável.

E para traçarmos o futuro não podemos esquecer a norma de Sêneca que dizia “nenhum vento sopra a favor de quem não sabe pra onde ir.” O setor possui diversos desafios, mas também inúmeras oportunidades, e é preciso saber sobretudo onde quer chegar e, ainda mais, o que precisa ser feito para chegar lá. Em uma sociedade moldada pela ideia de propósito como conector primordial com o mercado consumidor, o diálogo, a boa informação, a presença mesmo que digital e a transparência das ações passaram a ser de extremo valor para convencer a sociedade e o mundo político que aquilo que queremos como futuro é o melhor para o Brasil.

Sem dúvida, a grande discussão que se coloca é sobre a mobilidade sustentável, essencial para as pessoas irem e virem com menor impacto ambiental e social. A discussão do futuro da mobilidade no Brasil, o país do etanol, e no mundo está na agenda do dia e precisará ser encarada com muita energia pelo setor. É neste contexto que surge um grande esforço de comunicação da cadeia produtiva, chamado de “Etanol do Futuro”, articulado por um dos profissionais que mais entendem do setor, o presidente da consultoria Datagro, Plínio Nastari. O projeto está sendo formado por vários stakeholders e para os stakeholders, a fim de que o país conheça, reconheça e valorize o etanol como um dos mais importantes ativos ambientais do país.

No açúcar, a luta da desmistificação permanece dentro do conceito do equilíbrio no consumo tão necessário para qualquer atividade desempenhada pelo ser humano. Apesar de tentarem ainda não desenvolveram um energético tão barato e competitivo como o açúcar e, acima de tudo, que o substitua nas suas várias funções nos alimentos.  Nosso produto evita a formação de gelo no sorvete, dá volume as massas, crocância a bolos e biscoitos e viscosidade às bebidas, melhora a estabilidade de molhos, dá cremosidade ao chocolate e até aumenta a validade de alguns produtos. Não precisa dizer mais nada, deu até água na boca!

Vamos todos juntos em prol do setor sucroenergético!

Artigo publicado na Revista Opiniões – Fev/Abril – 2021

O potencial do biogás da cana-de-açúcar em Minas Gerais

Alessandro v. Arco Gardemann, presidente da Abiogas – Associação Brasileira de Biogás

Mário Campos, presidente da Siamig – Associação das Indústrias Sucroenergéticas de MG

O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo, sendo responsável por 45% da exportação global de açúcar. É reconhecido, também, como o segundo maior produtor de combustível renovável, o etanol. Da cana se aproveitam todos os resíduos que vão da geração de energia elétrica a adubação. O que surge de novidade neste setor é a produção de biogás, um gás renovável, originário da vinhaça e da torta de filtro, subprodutos do etanol e do açúcar.

A produção de biogás, que é diferente do gás natural de origem fóssil, já é realidade em São Paulo, com a inauguração da primeira planta no mundo em escala comercial, que utiliza os resíduos da cana-de-açúcar para geração de energia elétrica. Outras empresas já estão canalizando o biogás para oferta às distribuidoras, também em substituição ao diesel na frota de veículos pesados. Minas Gerais com uma moagem, na atual safra 2020/21, em torno de 72 milhões de toneladas de cana, produção de 4,7 milhões de toneladas de açúcar e cerca três bilhões de litros de etanol tem enorme potencial para investir no biogás.

Dos subprodutos da produção mineira do setor sucroenergético (vinhaça e torta filtro), seria possível gerar 1,8 milhões de MWh de energia elétrica, o suficiente para abastecer mais de 1 milhão de casas no estado, levando em conta o consumo médio residencial, em 2019, de 126,6 kWh/mês. Permitiria, também, a produção de 350 milhões de m3 de biometano (biogás purificado) com a possibilidade de substituição de 325 milhões de litros de diesel equivalentes. Se pegarmos os dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em 2019, o estado comercializou cerca de 6,93 bilhões de litros de diesel, o potencial de biometano poderia, então, suprir cerca de 5% desse volume.

Em um panorama nacional, a produção de biogás deve ser impulsionada nos próximos anos pelas reformas em discussão no setor energético – Novo Mercado do Gás e Modernização do Setor Elétrico – e pelo fortalecimento do Programa RenovaBio. Será justamente o setor sucroenergético que deverá impulsionar o potencial desse mercado no país, devido a qualidade dos seus resíduos, maior capacidade de investimento e experiência dentro do setor de energia.

Devido à presença interiorizada, o setor de açúcar e etanol deverá ser o responsável pela criação dos “gasodutos estruturantes locais”. Como na distribuição de gás natural que tem grande concentração no litoral, pela proximidade de exploração das bacias de petróleo, o biogás do setor sucroenergético, por sua vez, terá uma concentração e distribuição maior no interior do país, contribuindo ainda mais com o desenvolvimento econômico e social das cidades localizadas nessas áreas.

Artigo publicado no Jornal O Tempo – 13/01/2021

Investida de Trump no etanol

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Uma disputa internacional pela abertura maior do mercado brasileiro para o etanol de milho norte-americano acentua os problemas enfrentados neste ano pelos produtores de etanol e açúcar do país.

Com a pandemia e o isolamento social, o mercado interno do etanol hidratado já reduziu em cerca de 20% no primeiro semestre deste ano ante o ano passado. Os produtores, que têm condições, estão destinando a maior parte do caldo da cana para produção de açúcar, a fim de equilibrar as finanças.

Mas, às vésperas das eleições de novembro, Donald Trump ameaça uma retaliação comercial contra o Brasil, caso não reduza as tarifas de importação para entrada do etanol americano no mercado nacional. Ele quer jogar para o país o ônus de sua guerra comercial com a China, que suspendeu as importações do produto, gerando excedentes. Além de não conseguir implementar um programa mais robusto de mandatos de biocombustíveis com volumes mínimos nos combustíveis fósseis, fazendo vista grossa para as petroleiras.

Por outro lado, o Brasil já havia aumentado a cota de importação de etanol pelo país de 600 milhões para 750 milhões de litros anuais sem tarifa de importação, no início de setembro de 2019, com a incidência de uma tarifa de 20% sobre o excedente.

O fim da tarifa, objetivo dos norte-americanos, porém, coloca em maior risco a mais antiga área de produção sucroenergética do país, o Nordeste. É nessa região que entra grande parte do etanol estrangeiro, justamente durante o período da sua safra de cana-de-açúcar. Além de que todo o setor brasileiro, com mais de 360 usinas e geração em torno de 2 milhões de empregos diretos e indiretos, enfrenta dificuldades com a crise do coronavírus e a diminuição da demanda por etanol.

Para se chegar a um acordo, o governo brasileiro tenta há alguns anos discutir com os americanos uma contrapartida de ampliação da sua cota de açúcar para o produto nacional e redução da tarifação sobre o adoçante.

Os EUA impõem uma cota ao açúcar brasileiro, sem tarifa, de apenas 152 mil toneladas anuais, e o restante exportado recebe uma taxa de 140% sobre o valor do produto. Essa quantidade de 152 mil toneladas representa cerca de 1,3% de todo o mercado do país norte-americano de açúcar.

Segundo as projeções, a produção de açúcar brasileiro na safra 2020/2021 deverá alcançar um volume recorde de 39,3 milhões de toneladas ante 29,7 milhões no ciclo anterior. Esse aumento da produção vem sobretudo do Centro-Sul, que sairá de uma produção de 26,8 milhões de toneladas de açúcar na safra passada para cerca de 35,6 milhões de toneladas neste ano.

Pode estar no açúcar uma solução para esse mais novo embate de Donald Trump no comércio internacional, que desta vez atinge o Brasil e um dos seus mais importantes produtos de origem renovável da agroindústria nacional.

Extraído do Jornal O TEMPO, 28/08/20

Uma Minas Gerais cada vez mais sucroenergética

Sugarcane field and road with white cloud in Thailand

Uma entidade de classe tem como objetivo principal a defesa do interesse setorial e, dentre seu vasto leque de atuação, consideramos como uma das mais importantes a manutenção de um bom ambiente de negócios. Acreditamos que, se o ambiente de negócios fornece uma certa previsibilidade e segurança jurídica, sem dúvida conseguimos traçar uma boa trajetória para o setor. O restante são questões relacionadas ao próprio risco do negócio, mas, nesse quesito, todos os nossos concorrentes também estariam expostos às variações do mercado de commodities agrícolas e de energia.

Em Minas Gerais, a agroindústria canavieira alcançou reconhecimento e valorização através da união das empresas em torno de uma entidade forte e atuante, a Siamig, que mantém um trabalho focado e interlocução em todos os processos decisórios relacionados ao segmento. Minas Gerais sempre foi um estado diferente, alguns dizem que somos a síntese do Brasil, com todas as misturas representadas na sua população e no seu processo de decisão política e econômica.

Talvez seja por isso que a atração dos grupos do Nordeste na década de 1990, aliados a vários empresários mineiros e paulistas do setor, juntamente com a cultura das multinacionais que chegaram mais tarde, tenha se transformado em uma união de sucesso que, hoje, se reflete em todo o ambiente de negócios do setor em Minas Gerais.

Na safra 2019/2020, Minas Gerais realizou a sua maior moagem de cana-de-açúcar da história. Com a produção de março, é provável que o estado alcance 68 milhões de toneladas. Depois de cinco safras consecutivas de estagnação, ao que tudo indica, o estado entra agora em mais um período de expansão. Na safra 2020/2021, estaremos de forma vibrante comemorando a reativação de duas unidades que foram fechadas durante a crise e, assim, teremos 36 unidades produtoras de cana, açúcar, etanol e bioeletricidade, de forma eficiente para atender ao mercado consumidor.

Não resta dúvida de que o bom momento do setor reflete as decisões políticas do eleitor mineiro e brasileiro. As eleições do governador e empresário Romeu Zema, do Partido Novo, e do presidente Jair Bolsonaro adicionaram uma pitada de ânimo ao setor e tem moldado o bom momento atual, com governos com tendências liberais e desburocratizantes, preocupados com a eficiência e, principalmente, com o fato de não olhar o setor empresarial como inimigo da sociedade, mas, sim, como o motor, a peça fundamental da engrenagem para a retomada do crescimento econômico.

Diversas decisões no campo da relação do trabalho, na agilidade nos processos ambientais e na manutenção das diversas conquistas setoriais influenciadoras de mercado, têm elevado a confiança e, dessa forma, o espírito empreendedor, já demonstrado em diversas vezes na história desse setor resiliente e forte.

A produção sucroenergética de Minas Gerais está presente em mais de 120 municípios com unidades industriais em 27 deles, gerando, entre empregos diretos e indiretos, mais de 160 mil oportunidades. O setor se desenvolveu com práticas altamente sustentáveis, com a eliminação da queima da palha da cana, a redução do uso da água nos processos e na regularização das propriedades rurais. Atualmente, quatro grupos produtores preservam mais de 27 mil hectares de RPPN no norte de Minas.

 

A maior região produtora é o Triângulo Mineiro, que se tornou uma das principais do setor no País. Essa região sempre foi reconhecida como um grande hub de logística no Brasil, e o crescimento do setor possibilitou diversos outros investimentos. O etanolduto chega a Uberaba, assim como tem a presença do maior terminal rodoferroviário de granéis do Brasil, por onde pode ser escoado o açúcar. Além disso, a divisa com o estado de São Paulo propicia a utilização de uma série de estruturas logísticas já existentes. Também é bom lembrar que a Ferrovia Norte-Sul corta o extremo do Triângulo e poderá também ser uma grande oportunidade de otimização de logística para o setor.

Dizem que Minas são muitas, e o setor não está só no Triângulo Mineiro: cerca de 30% da produção está espalhada por outras regiões, com destaque para o noroeste do estado, onde há projetos importantes de produção de cana aliados à irrigação. Minas Gerais é o segundo maior produtor de açúcar do Brasil, com capacidade produtiva que pode chegar a 4,5 milhões de toneladas por safra. Boa parte desse produto é destinado à exportação, contudo o estado conta com uma indústria alimentícia importante, além de ter o açúcar incorporado à sua cultura, dando ao mercado interno grande pujança.

Quanto ao etanol, o estado possui a segunda maior frota de veículos do Brasil e, desde 2015, possui o maior diferencial do País entre alíquotas de ICMS do combustível limpo e renovável e a gasolina. O setor possui, em expansão, um parque produtivo desse produto, e, atualmente, a capacidade de produção já supera 3,6 bilhões de litros por safra.

Em 2019, o consumo de etanol hidratado no estado alcançou mais de 3,1 bilhões de litros, recorde absoluto, consolidando o mercado de biocombustíveis em Minas Gerais. O estado possui 853 municípios e praticamente em 800 deles há bomba de etanol nos postos revendedores, mostrando a capilaridade e o potencial de crescimento do consumo desse produto. Apesar do recorde, cerca de 40% do consumo do ciclo Otto em 2019 foi relacionado ao hidratado, ou seja, ainda há espaço para crescimento.

Nos últimos anos, as unidades mineiras priorizaram, além da melhoria agrícola, o investimento da capacidade de flexibilidade das fábricas, podendo, dessa forma, realizar a melhor escolha de mix entre etanol e açúcar, otimizando suas receitas. Cabe destacar os investimentos realizados na produção de bioeletricidade, sendo que, atualmente, 23 unidades exportam energia para o sistema. Em 2019, mais de 3,1 milhões de MWh foram exportados, um crescimento de mais de 8% sobre 2018. Em alguns meses de safra, a exportação do setor chega a representar 15% de toda a energia gerada no estado.

Todos esses números não seriam possíveis se não tivéssemos empresas e produtores rurais com capacidade de realizar, no campo, uma produção de cana eficiente, entregando produtividade agrícola com ATR. Em recente ranking divulgado, Minas Gerais compareceu com 4 das 10 primeiras colocações entre as unidades mais produtivas do Brasil. Algumas regiões são procuradas por interessados em aprender o que é feito no estado. Destaque para tecnologias de ponta que visam à aplicação de práticas mais ecológicas na produção e que servem de exemplo para o País.

Na logística, as empresas do setor foram responsáveis pela pavimentação de mais de 300 quilômetros de rodovia nos últimos anos, em parceria com o governo do estado. Agora, o setor entra em um novo momento, até 2032 há um plano ousado de investimento de mais de R$ 500 milhões em melhorias de trechos e obras de arte, pavimentação e trevos, que possibilitarão mais segurança e eficiência no transporte de cana pelas unidades produtoras.

Para o futuro, além da continuidade da busca pela melhor eficiência, o setor continuará focado no crescimento e na expansão da flexibilidade e da diversificação da produção. Já há alguns grupos se preparando para investir na produção de etanol de milho e biogás/biometado, todos animados e motivados com o RenovaBio. O setor em Minas continuará crescendo, esse é o nosso compromisso com os mineiros!

Artigo publicado na Revista Opiniões – Nº 63 – Fev/Abril – 2020

Modernidade no campo

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Por que o imaginário popular associa sempre trabalho escravo à cana-de-açúcar, mesmo que a realidade atual desse setor seja tão diferente e há muitos anos? Não podemos negar o passado, quando uma das primeiras atividades econômicas do país foi sustentada pelo trabalho escravo. Em nada esse terrível sistema colonial reflete o que ocorre hoje no setor sucroenergético, e, se não procurarmos conhecê-lo e verificar seus extraordinários avanços trabalhistas, ambientais, tecnológicos e econômicos, vamos incorrer sempre numa imagem distorcida, obsoleta e em descompasso com a atualidade.

Pode-se dizer que o setor sucroenergético foi um dos que mais avançaram no emprego de tecnologias limpas no campo, com o compromisso da regularidade nas relações de trabalho. Minas Gerais é um exemplo claro dessa grande evolução, como um dos primeiros estados a eliminar a queima da cana e o corte manual a partir de 2014, com o emprego de grandes colhedoras automatizadas.

Além de drones, que percorrem as plantações para coletar dados que ajudam na gestão da lavoura. Já vai muito longe o tempo em que se queimava a cana, e o trabalhador utilizava como ferramenta o podão para o corte manual da lavoura.

Com 10% de toda a produção de cana nacional, o setor sucroenergético no Estado ocupa o terceiro lugar no ranking do país e emprega diretamente quase 50 mil colaboradores. As empresas implantaram projetos de requalificação e capacitação junto ao Sistema S, para que os trabalhadores acompanhassem as grandes mudanças tecnológicas ocorridas no segmento, além de disponibilizar programas educacionais para elevar o nível de escolaridade.

Soma-se a isso o investimento em tecnologias limpas na indústria, com processos automatizados, destinação correta dos resíduos gerados, otimização do uso da água, entre outros. Além disso, foi feita a parceria, no ano passado, com o governo do Estado para investimentos de mais de R$ 500 milhões nos próximos 12 anos para melhorias na infraestrutura das regiões produtoras, conferindo mais segurança e eficiência no transporte de cana.

Essa imagem distorcida e muitas vezes cultivada em relação ao setor da cana-de-açúcar contribui para a desinformação e causa um distanciamento ainda maior entre a cidade e a realidade do campo.

Por isso, é preciso se atentar para os avanços do agronegócio brasileiros e, no caso do setor sucroenergético, reconhecer seu valor na produção de energias limpas, como o etanol e a bioeletricidade, e sua contribuição para o desenvolvimento sustentável e a saúde pública.

*Extraído do jornal o tempo – 21/02

Etanol e eletrificação, a melhor dupla para a mobilidade urbana do Brasil

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O tema mobilidade urbana tem sido recorrente em várias discussões pelo mundo, como forma de se pensar o futuro no difícil desafio do deslocamento humano com qualidade de vida. Mas, se muitos países não têm opções e veem somente o carro elétrico como solução da redução das emissões de gases poluentes, o Brasil tem à disposição os biocombustíveis, como o etanol e o biodiesel, que já tornam o transporte muito mais sustentável e limpo, podendo aliar a eletrificação para tornar a locomoção ainda melhor.

No caminho da mobilidade brasileira não se coloca a eletrificação veicular em disputa com os biocombustíveis e sim, sua conjunção, o que já resultou, inclusive, no lançamento este ano do híbrido flex, o carro menos poluente do mundo. De acordo com a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), este carro abastecido com etanol emite apenas 39 gramas de CO2 equivalente/Km, enquanto o elétrico no Brasil emite cerca de 65g e o carro a gasolina (E-27) 128 gramas.

Já o flex, quando abastecido a etanol (E-100), emite cerca de 58 gramas, menor ainda do que o veículo elétrico. Encontra-se também em pesquisa o carro a célula de combustível (hidrogênio) com o uso do etanol, que promete ser o de menor emissão no mundo ou 27 gCO2eq/Km. Esses carros já se enquadram num conceito muito discutido hoje em dia na indústria automotiva que é do “poço à roda”, ou seja, o carro tem que ser sustentável da produção ao trânsito.

O Brasil tem, então, todas as chances de liderar a transição para uma mobilidade urbana altamente sustentável com o uso dos biocombustíveis da eletrificação, principalmente  com a entrada em vigor do Programa Nacional de Biocombustíveis, conhecido como RenovaBio, que visa aumentar a produção e o consumo de biocombustíveis. Além do Rota 2030, atual programa governamental de apoio à indústria automobilista nacional, que dá incentivos à inovação, com os princípios da sustentabilidade ambiental, garantindo uma melhor eficiência aos atuais motores.

O etanol está inserido em todo esse contexto de discussão e permitirá não somente o desenvolvimento de tecnologias altamente “limpas” para uma mobilidade mais sustentável, com ganhos enormes para a saúde pública. Além de ser um combustível de mais baixo custo para o consumidor e de fácil abastecimento de Norte a Sul do país.

Os carros puramente elétricos são muito caros, a infraestrutura de recarga tem que ser toda construída, o destino e a reposição das baterias é ainda um desafio a ser superado. O Brasil é um país também, que tem a conta de energia muito cara e a recarga das baterias pode encarecê-la ainda mais, se o consumidor não tiver como produzir sua própria energia.

Por isso, a aposta do Brasil não pode ser outra, senão aproveitar o que já conseguiu avançar com os biocombustíveis e aliar uma tecnologia nova que é a eletrificação, gerando emprego, renda e desenvolvimento econômico de forma sustentável e eficiente!  Mário Campos

Extraído do Blog do PCO, 6/01/20