Agroindústria da cana-de-açúcar: uma riqueza para o país

Quem ainda não decorou o bordão “agro é a indústria riqueza do Brasil”? A propaganda de TV reforça o que se sabe sobre um dos mais fortes segmentos da atividade econômica brasileira na atualidade, senão o primeiro no ranking. Para essa performance, a produção da cana-de-açúcar, etanol, açúcar e bioeletricidade tem sido fundamental, em especial na região de Uberaba, com geração de mais de 160 mil empregos diretos e indiretos, e grande geração de renda. O Brasil é hoje o maior produtor global de açúcar do mundo e segundo em etanol, com a adoção de práticas sustentáveis e a expectativa de novos produtos. No Dia da Indústria, a SIAMIG (Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais) parabeniza a agroindústria da cana no estado de Minas Gerais e seu presidente, Mário Campos, fala um pouco das expectativas para este ano.

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JM – Quais os desafios e perspectivas do setor para 2021?

MÁRIO CAMPOS – 2021 será um ano de grande desafio para o setor sucroenergético de Minas Gerais em função da grande estiagem que nós tivemos no 2º semestre de 2020 e as poucas chuvas no verão desse ano. A perspectiva é que a gente tenha uma queda da safra de cana-de-açúcar no estado para 65,5 milhões de toneladas, depois de ter atingido o recorde de produção na safra 2020/2021 (70,8 milhões de toneladas. O segmento tinha preparado para apresentar inclusive uma safra maior do que a do ano passado, a área de cana de Minas Gerais para moagem aumentou em 2%, no ano passado, tivemos duas reativações de usinas, investimentos de outras empresas, mas infelizmente em função da seca a gente não vai conseguir ter essa safra maior. Isso vai refletir nos produtos, tanto açúcar como etanol, que vão sofrer uma queda de produção, mas totalmente adaptada às condições do mercado. Se a gente pensar na questão do açúcar, boa parte é exportado, mas outros países do mundo têm aumentado também a sua produção e a redução da produção brasileira de açúcar vai ser assimilada para outros países. No caso do etanol, nós ainda temos um efeito muito forte da pandemia na mobilidade das pessoas, a expectativa é que 2021 não atinja os períodos pré-pandemia em termos de consumo de combustíveis. Essas reduções na produção de etanol são totalmente assimiladas pelo mercado. A gente ainda não sabe se teremos uma 3ª onda, um novo período de fechamento, de recessão de mobilidade. É um ano de desafio, mas um ano de produção menor, mas com preços bem remuneradores para o setor, isso tem ainda mantido uma perspectiva boa em termo de resultado.

JM – Com a pandemia, o perfil da produção das indústrias sucroenergéticas sofreu alteração substancial? Voltou-se mais para as exportações?

MÁRIO CAMPOS – No início da pandemia nós tivemos uma recessão muito grande da mobilidade, isso afetou o mercado interno do etanol.  Tivemos um momento de redução muito forte do preço do petróleo no mercado internacional e nos preços de gasolina no mercado interno. Nossas empresas, que tem uma flexibilidade de produção, conseguiram direcionar uma boa parcela da produção de cana-de-açúcar para o açúcar e o mercado internacional naquele momento era mais demandante pelo produto brasileiro. Países como Índia e Tailândia tiveram essas reduções nas produções em função dos períodos de seca, isso fez com que o Brasil produzisse não só a maior produção da sua história de açúcar, mas também exportasse a maior produção dentro do histórico, foram mais de 13 milhões de toneladas a mais do que o ano anterior. Conseguimos aproveitar esse bom momento, e é claro, a desvalorização do câmbio ajudou muito, a receita das empresas brasileiras e obviamente a exportação que é do açúcar. A produção do etanol foi reduzida adaptando à recessão de mercado que nós tínhamos, mas ainda é um produto com alta produção. Em Minas Gerais vendemos mais de 3 bilhões de litros de etanol, então é uma oferta considerável. No Brasil, são quase 30 bilhões de litros de etanol e agregando inclusive etanol de milho. Além disso, também veio a política de ajudar a população mais carente e o açúcar no mercado interno foi impactado de forma positiva, houve uma demanda adicional somente durante o ano de 2020, o que também ajudou as vendas.

JM – Muito se diz que o RenovaBio é o grande desafio da indústria sucroenergética desta década. Na sua avaliação, até que ponto e de qual forma a cadeia produtiva da cana pode contribuir com a descarbonização da atmosfera?

MÁRIO CAMPOS – Esse programa é sensacional porque ele possibilita a transição energética para combustíveis de baixo carbono, num mundo com preocupação ambiental mais acentuada. Sem dúvida a eleição do presidente americano Joe Biden mudou de forma considerável o direcionamento do mundo com relação a fazer algo contra as mudanças climáticas. Aqui no Brasil conseguimos construir um mercado de carbono, de compensações dentro de um segmento de transporte. A política do RenovaBio não é só para o setor de etanol, é para combustíveis em geral onde há substitutos renováveis e limpos. Foi um passo importantíssimo para o Brasil, e estamos empenhados em ser cada dia melhores dentro deste programa. Além disso, ele tem um outro ponto muito positivo: o programa faz uma análise individualizada de cada empresa de acordo com a sua capacidade de descarbonização.  

JM – Há expectativa de crescimento e geração de energia elétrica de bagaço de cana?

MÁRIO CAMPOS – Minas Gerais exporta cerca de 3,2 milhões megawatt-hora de energia, é uma exportação muito considerável. Só para que todos tenham uma ideia, essa exportação representou 5,5% de toda produção de energia dentro do estado. Das 36 usinas em Minas, 23 exportam (comercializam no mercado interno) energia e outras já estão estudando formas de entrar no mercado e tem um potencial muito grande no biogás, que tem aparecido como alternativa e pode ser produzido a partir da vinhaça. Depois com a sua purificação podemos ter o biometano, que é um gás que conseguimos utilizar inclusive na própria frota de caminhões caso tiver sido adaptada. Mas o biogás também pode ser usado para produção de energia elétrica, então tem um potencial muito grande de utilização desse biogás descentralizando a produção de gás no Brasil. Hoje temos uma dependência muito grande ou do gás importado ou do gás natural que vem da exploração de petróleo no mar, então também é uma forma de ofertamos gás renovável, diferente do gás de origem fóssil. O setor tem um potencial muito grande dentro dessa área e esperamos que nos próximos anos tenhamos boas novidades aqui no estado com relação ao biogás.

Fonte: JM – 25/05

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