O potencial do biogás da cana-de-açúcar em Minas Gerais

Alessandro v. Arco Gardemann, presidente da Abiogas – Associação Brasileira de Biogás

Mário Campos, presidente da Siamig – Associação das Indústrias Sucroenergéticas de MG

O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo, sendo responsável por 45% da exportação global de açúcar. É reconhecido, também, como o segundo maior produtor de combustível renovável, o etanol. Da cana se aproveitam todos os resíduos que vão da geração de energia elétrica a adubação. O que surge de novidade neste setor é a produção de biogás, um gás renovável, originário da vinhaça e da torta de filtro, subprodutos do etanol e do açúcar.

A produção de biogás, que é diferente do gás natural de origem fóssil, já é realidade em São Paulo, com a inauguração da primeira planta no mundo em escala comercial, que utiliza os resíduos da cana-de-açúcar para geração de energia elétrica. Outras empresas já estão canalizando o biogás para oferta às distribuidoras, também em substituição ao diesel na frota de veículos pesados. Minas Gerais com uma moagem, na atual safra 2020/21, em torno de 72 milhões de toneladas de cana, produção de 4,7 milhões de toneladas de açúcar e cerca três bilhões de litros de etanol tem enorme potencial para investir no biogás.

Dos subprodutos da produção mineira do setor sucroenergético (vinhaça e torta filtro), seria possível gerar 1,8 milhões de MWh de energia elétrica, o suficiente para abastecer mais de 1 milhão de casas no estado, levando em conta o consumo médio residencial, em 2019, de 126,6 kWh/mês. Permitiria, também, a produção de 350 milhões de m3 de biometano (biogás purificado) com a possibilidade de substituição de 325 milhões de litros de diesel equivalentes. Se pegarmos os dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em 2019, o estado comercializou cerca de 6,93 bilhões de litros de diesel, o potencial de biometano poderia, então, suprir cerca de 5% desse volume.

Em um panorama nacional, a produção de biogás deve ser impulsionada nos próximos anos pelas reformas em discussão no setor energético – Novo Mercado do Gás e Modernização do Setor Elétrico – e pelo fortalecimento do Programa RenovaBio. Será justamente o setor sucroenergético que deverá impulsionar o potencial desse mercado no país, devido a qualidade dos seus resíduos, maior capacidade de investimento e experiência dentro do setor de energia.

Devido à presença interiorizada, o setor de açúcar e etanol deverá ser o responsável pela criação dos “gasodutos estruturantes locais”. Como na distribuição de gás natural que tem grande concentração no litoral, pela proximidade de exploração das bacias de petróleo, o biogás do setor sucroenergético, por sua vez, terá uma concentração e distribuição maior no interior do país, contribuindo ainda mais com o desenvolvimento econômico e social das cidades localizadas nessas áreas.

Artigo publicado no Jornal O Tempo – 13/01/2021

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